De Helô D’Angelo
208 páginas
Harper Collins Brasil | 2022
As páginas de Nos Olhos de Quem Vê, da quadrinista Helô D’Angelo, soam como um desabafo ao mesmo tempo que nos acolhem em um abraço de identificação. Sem exageros, todas já passamos por algum conflito com a autoimagem. Por meio de relatos pessoais, que vão desde a infância da autora, ela reflete sobre sua relação com os padrões de beleza e sua busca para alcançá-los.
Helô encontra várias maneiras de contar sua história, fazendo deste um quadrinho que é como um testemunho, mas que nunca soa limitado graficamente por conta disso. A artista é versátil e usa das suas memórias, experiências familiares, filmes e até um jogo de tabuleiro para desenvolver o conteúdo. A trama começa com uma guerra completamente infundada contra a balança, passa pela relação com os pelos, seios, cabelo, pele (entre acne e rugas) até retornar ao peso, para encerrar com muita sensibilidade. Algumas passagens soam repetitivas com o que já foi dito anteriormente, mas isso pode ser justificável, já que o tema mais parece um ciclo em que o padrão de beleza impera e, de fato, se repete.
É preciso dizer que pela universalidade do assunto e como ele nos afeta, esta é uma HQ perfeita para quem tem pouquíssimo hábito com a mídia de quadrinhos. A leitura é leve e tem um ponto de contato ainda mais especial com as leitoras, afinal, por pressões estéticas da mídia e pela necessidade de controle de uma sociedade machista, as mulheres definitivamente são as que mais sofrem com as questões abordadas.
A quadrinista já havia mostrado o seu potencial e a evolução de seu traço em Isolamento, publicado em 2021. Aqui, vemos uma Helô que parece bastante segura dos recursos que usa para narrar graficamente a história, em uma arte que alterna entre traços mais realistas e mais caricatos, de acordo com a necessidade.
Nos Olhos de Quem Vê é daquelas leituras espelho, em que nos vemos refletidos nas páginas. A publicação da Harper Collins Brasil se destaca pela sensibilidade e honestidade de Helô D’Angelo, que faz um quadrinho pensando naquilo que seria incrível que seu eu adolescente pudesse ter lido, no lugar das famigeradas revistas “Capacho”.