De Cy.
136 páginas
Moby Dick | 2024
Tradução: Déborah Spatz
Radium Girls encontra a fórmula perfeita para contar uma história sensível, mas igualmente dura, enquanto nos encanta com o traço de Cy. A quadrinista francesa transpõe os leitores para o início do século XX, quando os mostradores dos relógios eram pintados manualmente, com uma tinta verde que permitia ver os números no escuro. Esse trabalho ficava a cargo de trabalhadoras, depois conhecidas como “radium girls”. Jovens mulheres que tiveram suas vidas atravessadas pela radioatividade, sem sequer conhecer os efeitos disso.
A maneira como Cy conduz a trama logo nas primeiras páginas é graciosa, quase delicada. Conhecemos um pouco sobre as personagens, suas personalidades, enquanto aos poucos nos damos conta dos efeitos da radiação em seus corpos e o tom se torna cada vez mais trágico. Tudo é embalado pelo visual elegante em tons de roxo e de um verde marcante, que parece brilhar como a luz fosforescente.
A autora é objetiva ao apresentar a história dessas mulheres, didática no ponto certo e habilidosa ao ficcionalizar seus diálogos e relações. O resultado é um quadrinho que nos mergulha em um tema que pode ser desconhecido para muitos, sem soar pretensioso. A sensibilidade está presente também nas escolhas estéticas, com metáforas visuais e cenas que são ao mesmo tempo trágicas e poéticas. O ritmo da HQ se torna mais acelerado, principalmente na segunda metade, algo que não atrapalha o entendimento da trama, mas é perceptível ao leitor.
Publicado pela Moby Dick, Radium Girls é um manifesto sobre direitos trabalhistas e sobre apagamento. As histórias dessas mulheres foram negligenciadas em vida, mas também após tudo o que enfrentaram. Por isso, um resgate dessas memórias, como o apresentado por Cy, é mais do que bem-vindo. Quando é feito com uma arte tão encantadora, só podemos agradecer por ler essa história justamente na forma de quadrinhos.