De Karipola
116 páginas
Independente | 2023
Em Quase Tudo São Flores, Karipola deposita reflexões no papel, em um exercício de análise. A questão principal aqui são mesmo as flores, como o próprio nome sugere (mas não apenas isso). De símbolo da feminilidade a presentes inúteis, elas estão por toda parte na HQ. Assim como está Celeste, a avó da autora.
Tudo começa com um questionamento: por que Karipola sempre disse que odiava flores? Para responder essa pergunta, ela volta à sua infância e, com ares de Liv Strömquist, volta bem mais no tempo para falar sobre a linguagem das flores, no século XIX. Depois, segue para uma reflexão sobre utilitarismo, afinal, isso também está relacionado às plantas. Se elas irão murchar e morrer, que utilidade têm?
Nesse ensaio, a autora usa esses paralelos e recursos, como diálogos e memórias de momentos com sua avó, para construir uma narrativa sólida como também fluida. As páginas deslizam pelos dedos, embaladas pelo charme dos desenhos e pelos layouts variados. Karipola conecta muito bem os ganchos da trama, nos traz para perto de si e ainda nos propõe as mesmas reflexões, com sua abordagem natural.
Um grande destaque na execução é a divisão de capítulos, que colabora na condução das temáticas e rende páginas lindas de transição. Ao final, a sensação é de completude. E por mais que a ideia de produzir um ensaio não exija um desfecho, esse aqui é poético e cheio de carinho pela vó Celeste.
Uma estreia impressionante, Quase Tudo São Flores poderia render até mais páginas, porque dá mesmo vontade de ficar mais tempo ao lado dos “pensamentos gráficos” da autora. Não é preciso gostar ou desgostar de flores, o importante é estar atento aos seus significados, para nós e para quem nos cerca.