Quando Nasce a Autoestima?

9 maio 2024

De Regiane Braz e Jefferson Costa
184 páginas
Trem Fantasma | 2024

Há muitas maneiras de se contar uma história. A que Regiane Braz e Jefferson Costa escolhem em Quando Nasce a Autoestima? é a mais sincera possível. Na não-linearidade do roteiro há várias dimensões da vida da protagonista, Beatriz, que precisa lidar com suas inseguranças, introjetadas desde a infância, mas também com a autoridade que descobriu em si, com o letramento racial. A professora parece estar em conflito nas primeiras páginas, mas ainda não entendemos bem o porquê.

Aos poucos, a trama nos leva para o passado, depois retorna ao presente, e viaja outras vezes no tempo. Para a menina Bia, o racismo esteve presente desde o primeiro dia, nos olhares da própria família, nas palavras hostis dos colegas da escola. Para a mulher Bia, a situação não mudou tanto, afinal, nenhum agrado, nenhum esforço, é o suficiente para que as colegas professoras a valorizem e respeitem. É no reencontro com sua ancestralidade que ela conseguirá forças para encarar os desafios do presente e o que ficou submerso no passado. E é assim que a autoestima do título se preenche de sentidos.

Se no roteiro Regiane entrega diálogos dinâmicos, referências a pensadores, e um esmero com as palavras, Jefferson deixa na arte a harmonia de costume. Há muita sensibilidade nesse casamento (literal) entre roteiro e arte, de modo que a sensação é a de deslizar pelas páginas, pelos momentos da vida de Beatriz. As cenas mais chocantes da HQ são retratadas com o devido impacto, e é inevitável traçar as ressonâncias autobiográficas dessa história.

Ainda na narrativa gráfica, há um elemento que os leitores irão reparar inevitavelmente: em todas as páginas, um dos quadros está em branco. O significado disso é intrínseco à leitura, mas seu incômodo é proposital. Ele sempre está ali, para quem lê, porque sempre está para a própria Bia.

Quando Nasce a Autoestima? é emocionante e igualmente forte, como a mulher aqui retratada. Publicado pela Trem Fantasma, o quadrinho encara temas sensíveis com a coragem e o conhecimento necessários. De quebra, nós leitores ganhamos uma história muitíssimo bem contada.

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