De Ugo Bienvenu
168 páginas
Comix Zone | 2021
Tradução: Fernando Paz
Um mundo onde os espaços de armazenamento são limitados e cada dado digital está sujeito a julgamento para decidir sua conservação ou destruição. Assim é o universo de Preferência do Sistema, de Ugo Bienvenu, uma distopia perturbadora, muito próxima da realidade, que nos faz refletir sobre o presente. Um quadrinho que levanta questões sobre memória, humanidade e nossa relação com a cultura.
Acompanhamos Yves Mathon, um arquivista que trabalha basicamente apagando dados para abrir espaço para outros. Tudo vai bem, até que um dia, ele não consegue lidar com a tarefa de destruir o filme e tudo que envolve a produção de “2001, A Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick. Secretamente, ele armazena os arquivos em seu robô doméstico. Tal feito é um crime grave e, a partir daí, a história se desenrola.
É preciso dizer que, neste universo, uma sociedade cada vez mais egocêntrica, o valor de importância é medido com base nas visualizações. Logo, produções artísticas históricas, de grande relevância hoje em dia, estão condenadas a desaparecer para dar espaço a materiais supérfluos, como tweets, vídeos fúteis do YouTube e selfies do Instagram que tiveram boas métricas. O autor propõe reflexões poderosas sobre o desinteresse da sociedade pela memória e pelo patrimônio cultural. Ao mesmo tempo em que é cruel, Bienvenu traz uma visão esperançosa – e poética – da resistência, da importância do passado na criação do futuro e do conhecimento como uma forma de enfrentar a opressão.
Gostamos bastante do estilo gráfico da obra. Com seu traço rígido e utilização de cores saturadas, Ugo Bienvenu cria uma ambientação eficiente, que traz um sentimento de familiaridade, mesmo com a trama se passando no futuro.
Inquietante, Preferência do Sistema toca o leitor enquanto o faz pensar no agora, ao ler sobre um mundo distópico. Vale a pena negligenciar nossa história? Quais sacrifícios estamos dispostos a fazer?