Pigmento

De Aline Zouvi
256 páginas
Quadrinhos na Cia. | 2024

Aline Zouvi tem um jeito autêntico de contar histórias. Pigmento, seu primeiro quadrinho longo, deixa isso muito evidente na construção da narrativa, na abordagem e no traço. Clarice, a protagonista, é uma tatuadora que não consegue ser tatuada. A tinta penetra em sua pele, mas some depois de horas, misteriosamente. Esse é apenas o ponto de partida para uma leitura deliciosa.

Quando a vida de Clarice se esbarra com a de Lívia, uma restauradora de livros que acompanha a avó em sua primeira tatuagem, o quadrinho ganha ares de um romance sereno, nada melodramático. A relação das duas é construída, enquanto essas personagens também ganham mais amplitude diante dos nossos olhos.

A tatuagem não é apenas pano de fundo, é um elemento marcante da HQ, que ganha novas simbologias, à medida que a trama avança. É interessante notar como Aline encaixa as temáticas nos diálogos com muita naturalidade, é possível perceber que a autora encadeou, de forma despretensiosa, vários assuntos de seu interesse na construção de Pigmento. Toda a condução do roteiro é equilibrada, muito consciente da dimensão de sua proposta.

A fluidez da leitura é outro ponto que se destaca. A narrativa gráfica se assemelha bastante à de outros trabalhos da autora, só que dessa vez há mais respiros e silêncios. É fácil identificar Aline Zouvi por seu traço. Seus desenhos são expressivos sem precisar de muito, com uma bela representação da intimidade, dos corpos e, é claro, das tatuagens. Os cenários, apinhados de livros, detalham uma ambientação que referencia principalmente autoras.

Lançamento da Quadrinhos na Cia., Pigmento nos conquista pela ternura com a qual essa história que é de amor – mas que não se limita a isso – é construída. Em uma HQ repleta de símbolos, é possível encontrar mais de um significado, mais de uma interpretação… Mas algo permanece inquestionável, Aline acolhe quem lê.