De Carlos Giménez
208 páginas
Comix Zone | 2020
Tradução: Jana Bianchi
Paracuellos é uma leitura carregada de sentimentos diversos. A obra de Carlos Giménez, publicada pela editora Comix Zone, é enfática no histórico covarde da Espanha franquista do pós-guerra, período quando se passa a trama. Nos orfanatos do Auxílio Social, crianças cresciam em um ambiente de religiosidade imposta e crueldade. Entre tapas e puxões de orelha, conhecemos mais da personalidade dos pequenos, em uma narrativa que é ao mesmo tempo leve e intensa. E é claro que saber que a história é autobiográfica faz de Paracuellos um retrato ainda mais tocante.
Pablito, o menino que sonha em ser quadrinista é a personificação de Giménez ali. Mesmo com toda opressão e violência dos professores e cuidadores do orfanato, os meninos conseguem transformar as páginas de Paracuellos em histórias genuínas de aventura, arrancando sorrisos do leitor. Há inocência, vingança, traumas, sorte e muitos sonhos nas vivências dos garotos de Paracuellos.
Destaque para a forma como Giménez constrói a trama a partir de histórias curtas (no início da edição, que compila 4 volumes da obra, elas chegam a ser de apenas duas páginas). Em poucos quadros já conseguimos absorver aquele ambiente, graças à narrativa muito sensorial da HQ, principalmente devido às expressões dos personagens. Os adultos são retratados como muito severos, enrugados e carrancudos. Os meninos, ora empolgados, ora apreensivos.
O primeiro volume de Paracuellos é um relato histórico que vai muito além da autobiografia. A pluralidade de personagens permite que nos identifiquemos com a história em muitos níveis. Não podemos dizer que esse é um quadrinho divertido (mesmo que tenha suas pitadas de humor), afinal, Paracuellos também é uma forma de Giménez elucidar sobre a vida nos orfanatos daquele período. Mas há, sim, uma leveza própria da infância, um tom inocente que vai nos conquistando página a página.