De Joe Ollmann
216 páginas
Comix Zone | 2022
Tradução: Érico Assis
Pai de Mentira, de Joe Ollmann, oferece um exame provocativo dos relacionamentos interpessoais e como a toxicidade pode se tornar uma cadeia dentro de um núcleo familiar. Jimmi Wyatt é um dos cartunistas mais amados do mundo, extremamente popular por sua tira diária “Chapa & Chapinha”, em que aborda uma relação perfeita entre pai e filho. No entanto, em sua própria casa, a situação é completamente oposta. Seu filho Caleb é uma vítima de negligência parental, uma criança que nunca foi ouvida e muito menos amada.
Agora já adulto, na meia-idade, tentando lidar com seus próprios demônios, Caleb é mais parecido com seu pai do que ele gostaria de admitir, exceto pela sua carreira artística que nunca deslanchou. O relacionamento entre pai e filho é a peça central do quadrinho principalmente por tratar de como, muitas vezes, perpetuamos os hábitos dos nossos pais. Além disso, a obra também é uma reverência à nona arte.
Um dos grandes méritos de Pai de Mentira é a capacidade de conectar os personagens com o mundo real. Ollmann é habilidoso ao criar uma atmosfera de realismo, que leva o leitor a acreditar que aquilo tudo aconteceu. Embora Pai de Mentira possa parecer uma autobiografia, até pelas inúmeras referências à indústria dos quadrinhos, a HQ é uma ficção.
Efetivo também em seu visual, que explora bem as expressões dos personagens, o quadrinho tem uma arte bastante cartunesca, que reforça seu tom agridoce, ao lado da paleta colorida em aquarela.
Publicado pela Comix Zone, o primeiro quadrinho de Joe Ollmann a chegar ao Brasil é uma reflexão sombria, às vezes tragicômica, sobre os danos causados pelo narcisismo e pela ausência. Uma história que poderia, sem dúvidas, ser real.