De Susumu Higa
544 páginas
Conrad | 2025
Tradução: Edward Kondo
Okinawa é denso, não apenas por ser um calhamaço de mais de 500 páginas. O mangá de Susumu Higa retrata a vida no arquipélago japonês que dá nome à obra, durante e após a 2ª Guerra Mundial. Além de ser palco de batalhas sangrentas, com milhares de perdas militares e civis, o local se tornou território ocupado pelos EUA, onde o país mantém cerca de 70% de suas bases.
Composto por várias histórias curtas, o quadrinho compila em um único volume dois livros: “Sword of Sand”, de 1995, e “Mabui”, de 2010. O primeiro é dedicado ao período da guerra, com alguns relatos reais, inclusive histórias dos pais de Higa. Apesar de também trazer foco aos soldados japoneses, a maioria das tramas é centrada nos civis. Diante do pavor que sentem dos americanos e da negligência dos militares de seu próprio país, a população da ilha parece refém em sua terra. Higa demonstra como a guerra é cruel em todas as suas faces.
Já as histórias que correspondem ao segundo livro se passam em uma Okinawa moderna, mas que não perdeu suas tradições. Mesmo que seja focado nos efeitos da presença norte-americana com suas bases na região, é nestas narrativas que o leitor consegue conhecer melhor alguns costumes e tradições, que são parte da identidade local, muito diferente do restante do Japão em vários aspectos. Há ótimas histórias em ambos os segmentos da obra, mas é na primeira metade que estão as de maior impacto, sem dúvidas.
Nossa principal crítica a Okinawa está no modo como se desenvolve a narrativa gráfica. Muitas vezes, as transições entre quadros parecem abruptas e algumas sequências perdem força com isso. Os traços delicados de Higa dão um charme especial ao mangá, mas as fisionomias dos personagens são bastante semelhantes, o que exige atenção redobrada.
Publicado pela Conrad, Okinawa é um testemunho da perspectiva japonesa para eventos que muitas vezes conhecemos através dos olhos dos EUA, nas mais diferentes produções. Susumu Higa apresenta a guerra e suas consequências de várias formas, algumas até agridoces. Sem dúvidas, esta é uma leitura que não termina com um ponto final no passado.