O Pesadelo de Obi

15 dezembro 2021

De Chino, Tenso Tenso e Ramón Esono Ebalé
144 páginas
Skript | 2021
Tradução: Márcio dos Santos Rodrigues

O Pesadelo de Obi, do trio Chino, Tenso Tenso e Ramón Esono Ebalé, entrega, a partir de uma HQ crítica, um panorama trágico sobre a Guiné Equatorial e as incoerências de seu presidente Obiang Nguema Mbasogo, aqui chamado de Obi. Há mais de 40 anos no poder, ele vive uma vida luxuosa e figura na lista dos presidentes mais ricos do mundo, enquanto o país sofre de problemas estruturais e possui uma população miserável. O cinismo do ditador, que afirmou que a “Guiné é um país rico”, foi o ponto de partida para criar uma história que fizesse o leitor rir de Obiang, assim como ele ri do povo de seu próprio país.

Em resumo, a obra nos convida a acompanhar Obi em uma situação completamente atípica para ele. Em um determinado dia, ele acorda como um cidadão comum da Guiné Equatorial. Em seu pior pesadelo ele não é mais o presidente: não tem ninguém para o servir, não tem conforto, não tem dinheiro. Muito pelo contrário, assim como parte da população do país, Obi acorda em uma casa de madeira e chapas de metal, sem acesso à água potável e saneamento básico. A experiência do protagonista como uma pessoa qualquer é uma paródia, uma afronta ao poder de Obiang.

Apesar de ser um quadrinho cômico, que utiliza do humor e se aproveita do tom onírico (afinal, Obi está vivendo seu pesadelo) para exagerar situações, O Pesadelo de Obi é intrinsecamente centrado na realidade. Há diversos pontos da história em que são feitas críticas diretas ao presidente, seu filho, sua esposa e a outros presidentes tiranos. Por isso, é importante que o leitor esteja sempre atento às notas, ao final do volume, em que o editor Márcio Rodrigues esclarece detalhes que podem passar despercebidos por nós.

A arte de Ebalé é muito caricata e explora o absurdo, com situações escatológicas e exageradas. Tudo para intensificar o humor crítico da obra, mas também para escancarar o mundo real.

O Pesadelo de Obi é uma oportunidade para tomar conhecimento de um tema que nem sempre chega até nós. Este é um quadrinho-denúncia, em que podemos rir do inescrupuloso Obiang, mas que, acima de tudo, também nos coloca para ter um choque de realidade.

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