De James Tynion IV e Martin Simmonds
324 páginas
Devir | 2023
Tradução: Marquito Maia
Teorias da conspiração movimentam uma rede de suspeitas alucinadas sobre o funcionamento do mundo. Uma rede perigosa, diga-se de passagem, que desacredita ciência e fatos. Usar esse tema como base para uma HQ poderia ser arriscado, se James Tynion IV não soubesse tão bem como abordar o assunto. O Departamento da Verdade é ácido no ponto certo e usa as conspirações para nos imergir em um mundo em que essas teorias podem se materializar, pela força da crença daqueles que as tomam por verdade.
O governo dos Estados Unidos sabe que precisa combater as ideias sobre os reptilianos, a nova ordem mundial, a nacionalidade de Obama, a farsa do homem na lua ou as tramas por trás do assassinato de Kennedy. É para isso que existe o Departamento da Verdade, uma divisão destinada a dizimar a materialização dessas ideias que parecem absurdas, mas que podem se tornar ameaçadoras. Cole Turner, ex-agente do FBI que fora um garoto assombrado pelo pânico satânico da década de 1980, é recrutado como parte dessa equipe excêntrica, mesmo sem entender, a princípio, a ordem das coisas. É ao lado dele que compreendemos a dinâmica do universo construído por James Tynion IV e Martin Simmonds. Apesar da fantasia, são óbvias suas pontes com a nossa realidade.
Publicada pela Devir, reunindo dois encadernados originais, o quadrinho pode nos deixar tão confusos quanto o seu próprio protagonista, até nos situarmos. São páginas e mais páginas recheadas de diálogos, além de cenas abstratas no traço de Simmonds. É uma trama complexa, em que não podemos confiar que existam mocinhos ou vilões e a tensão é palpável. Histórias têm dois lados e a verdade tem um preço, como descobrimos ao fim deste primeiro volume.
Simmonds faz painéis que remetem a Dave McKean e Bill Sienkiewicz, em que nem sempre é possível compreender o espaço, tornando a ambientação completamente fluida. Um casamento perfeito com a proposta da HQ.
Esta primeira edição de O Departamento da Verdade traz os elementos necessários para cativar o leitor a seguir acompanhando essa história consciente do contexto em que vivemos, e que jamais o subestima. Basta crer para que algo seja real?