De Pornsak Pichetshote, Alexandre Tefenkgi e Lee Loughridge
308 páginas
Pipoca & Nanquim | 2024
Tradução: Dandara Palankof
Um detetive sino-americano é chamado para investigar o desaparecimento de Ivy Chen, a jovem por quem um dos homens mais poderosos da cidade havia se apaixonado. Com essa premissa, O Bom Asiático – 1936 é um noir que traz como diferencial a ambientação e sua ancoragem histórica. Pornsak Pichetshote, Alexandre Tefenkgi e Lee Loughridge abordam a realidade do povo chinês vivendo a década de 30, nos EUA, um país que havia fechado as fronteiras para eles e que os tratava com preconceito e indiferença.
Edison Hark é um protagonista com controvérsias e conflitos internos. Sobretudo do papel que ocupa enquanto sino-americano, uma vez que precisa muitas vezes agir contra o seu próprio povo para, de certo modo, protegê-lo. Pichetshote não tem cerimônias para começar a história, o leitor precisa se localizar aos poucos, o que nos deixa curiosos para descobrir os rumos da trama. Porém, apesar do bom uso do contexto histórico e da premissa instigante, O Bom Asiático se torna confuso em seu desenvolvimento, quando novos fios vão sendo acrescentados ao mistério do desaparecimento de Ivy, o que resulta em um emaranhado de informações e novos personagens. Dito isso, é uma pena que as reviravoltas se tornem quase banais, porque seu impacto imediato é amortecido por diálogos expositivos, principalmente no trecho final da HQ. Elementos que pareciam importantes no início se tornam descartáveis e alguns personagens parecem surgir do nada.
A arte de Alexandre Tefenkgi e as cores de Lee Loughridge são visualmente ótimas e colaboram muito para a estética noir que marca a obra. O traço mais estilizado, que remete a Darwyn Cooke e Elsa Charretier, funciona bem para a história contada, mas a caracterização pode dificultar o reconhecimento de personagens, por isso é necessário atenção redobrada para entender quem é quem, à medida que eles são apresentados.
Publicado pela Pipoca & Nanquim em um volume único, O Bom Asiático traz um frescor ao gênero por aliar questões sociais e históricas complexas à trama de detetive, porém adoraríamos que a história em si não perdesse fôlego ao longo do caminho.