De Wagner Willian
128 páginas
Independente | 2024
Comece a ler um quadrinho de Wagner Willian e seja surpreendido. Essa sempre foi a tônica do trabalho do artista. Não é diferente em “Ninguém Trabalha Mais que as Operárias”, uma HQ que vai do humor à crítica social em uma virada de página, mas longe das obviedades. Os recursos empregados nesta obra pequenininha a tornam uma fábula ainda mais saborosa.
Uma abelha com consciência de classe, é isso que Abela é. Ela está certa de que é um absurdo que as operárias, com tanto trabalho árduo para manter uma colmeia de pé, não recebam o mesmo tanto de comida que a poderosa abelha-rainha. Antes de se espatifar no chão do apartamento de um escritor, Abela tentou iniciar uma revolução. São as desventuras revolucionárias dessa carismática abelhinha que acompanhamos em páginas que combinam texto e arte, nem sempre formalmente quadrinizadas.
Wagner Willian brinca com as relações sociais e de classe, enquanto também brinca com o texto, com o letreiramento ou a composição das páginas. Além da abordagem mais evidente, presente até no título das HQs, há ainda uma evidente contemplação do nosso mundo, suas maravilhas e tristezas, a partir do olhar externo de Abela.
A arte é, sem dúvidas, um destaque. As escolhas do visual dos personagens, a composição dos cenários, tudo casa perfeitamente com a história construída. A opção aqui não é por uma antropomorfização tradicional, as abelhas parecem mesmo humanos vestidos de abelhas o que garante um visual único ao mesmo tempo em que há toda uma aura de desenho animado clássico transmitida pela estética.
Para aqueles que gostaram de O Livro dos Pássaros, de Lark, e de Fabio-Formiga, de Gabu Brito, “Ninguém Trabalha Mais que as Operárias” é uma ótima pedida. Por que não usar o lúdico para falar do real? E mais, por que não transformar algo tão banal, como uma abelha que invade nossas casas, para refletir sobre um pouco de tudo ao nosso redor? Talvez precisássemos de uma mente como a de Wagner Willian para isso.