De Mark Russell, Mike Deodato Jr. e Lee Loughridge
120 páginas
Comix Zone | 2022
Tradução: Érico Assis
Há muito o que discutir em Nem Todo Robô, o debate levantado pela HQ chega a ser ainda melhor do que o conteúdo da obra em si. A distopia escrita por Mark Russell, desenhada por Mike Deodato Jr. e colorida por Lee Loughridge tem ótimos elementos de ficção científica e humor sombrio, em uma leitura instigante e provocativa.
2056. O mundo foi quase destruído. Agora, a população que restou vive em cidades-bolhas coexistindo com robôs. Eles têm se tornado cada vez mais presentes, substituindo as responsabilidades dos humanos. Os empregos, a justiça e demais aspectos da esfera pública foram entregues a eles, afinal, depois de quase acabar com o mundo, a humanidade precisa ser protegida dela mesma. Compreendemos essa dinâmica a partir da família protagonista, os Walter. Assim como em outros lares, entre eles há um robô responsável pelo trabalho, que provê para a família, enquanto os humanos ficam em casa.
A tensão entre esses dois “grupos” começa a se intensificar e uma nova linha de inteligência artificial é criada para apaziguar os conflitos. Diante dessa premissa, Nem Todo Robô traz uma metáfora futurista sobre questões atuais, como obsolescência humana, o capitalismo desenfreado e suas implicações nas relações sociais, a dependência da tecnologia e o consumismo.
Entre tantas discussões, Russel revela que a gênese de sua história está em abordar a masculinidade tóxica. Isso é algo sutil na trama, mas não é à toa que se chame Nem Todo Robô. Os papéis tradicionais de gênero (a esfera pública historicamente destinada ao homem e a privada, relegada às mulheres) podem ser observados a partir das relações entre seres humanos e robôs na HQ.
A arte de Deodato e as cores de Loughridge capturam bem o tom sombrio da obra. Há também um toque de realismo, principalmente na caracterização dos personagens.
Publicado pela Comix Zone, Nem Todo Robô é bem sucedida em trazer dilemas éticos e morais pertinentes. Porém, até pelo tamanho da minissérie, o clímax parece acelerado e dissipa parte do impacto que poderia ser causado. Este é um quadrinho que se torna relevante mais pelos debates propostos do que, de fato, pela história contada.