De Pablo Franco e Lautaro Fiszman
96 páginas
Comix Zone | 2023
Tradução: Fernando Paz
Dos argentinos Pablo Franco e Lautaro Fiszman, Náufrago Morris foi um dos vencedores do 1º Prêmio Latino-americano de quadrinhos e, por isso, teve sua publicação original em terras brasileiras pela editora Comix Zone, uma das organizadoras da premiação. Dedicada a recontar a história real de Isaac Morris, tripulante de um navio inglês que naufragou na costa da Patagônia, no século XVIII, a HQ tem alto valor histórico, apesar de aproveitar menos da linguagem de quadrinhos do que esperávamos.
Com um visual de encher os olhos, em pinceladas expressionistas marcadas e cenas que poderiam virar quadros, o quadrinho traz Morris narrando os fatos em primeira pessoa, como se rememorasse seus piores momentos. Após o naufrágio do Wager, navio da Marinha Britânica do qual era tripulante, o protagonista se vê ao lado de poucos companheiros, buscando a sobrevivência em situações extremas. Doenças, fome e condições climáticas adversas são apenas o início daquilo que seria uma jornada cheia de percalços, narrada de forma bem direta.
Um dos destaques da obra é, sem dúvidas, a maneira como a relação entre nações e grupos étnicos na região é representada. Somos levados a presenciar o genocídio de povos indígenas, assim como a guerra entre espanhóis e ingleses, que levariam até mesmo a alianças improváveis.
É uma pena, no entanto, que a narrativa gráfica pareça tão estática em várias ocasiões. Isso gera uma sensação de rigidez no casamento entre texto e arte, o que é reforçado pelo fato de a HQ ser quase toda narrada a partir dos recordatórios.
Mesmo com essas questões, Náufrago Morris não deixa de ter bons momentos. A dupla de autores foi perspicaz, ao usar da história desse náufrago inglês para apresentar um contexto essencial do que era a América Latina colonizada e seus conflitos. Uma boa obra, que alcança os objetivos dentro de sua proposta.