Mickey Mouse: Café Zumbi

De Régis Loisel
72 páginas
Panini Comics | 2024
Tradução: Marcelo Alencar

Mickey Mouse: Café Zumbi é facilmente uma das melhores surpresas do selo BD Disney. Régis Loisel abraça o estilo vintage das animações antigas do personagem, enquanto usa todo o seu conhecimento da linguagem de quadrinhos para isso, além de um humor que remete ao estilo pastelão clássico das histórias do rato mais famoso do mundo.

Apesar de ser ambientada no universo antropomórfico da Disney, a trama parece mimetizar a crise vivida durante a Grande Depressão, durante a década de 1930. Está difícil encontrar emprego e não há expectativa de melhora. É nessa situação que Mickey e Horácio se encontram e eles ainda precisam tentar salvar seu bairro de um banqueiro que se alia a Bafo de Onça e Zé Ratão para desapropriar os moradores de suas casas e explorá-los o máximo possível. O principal recurso para esse projeto de dominação é, acredite, um pó de café com propriedades alucinantes.

Só pela sinopse já é possível perceber como Loisel encaixa crítica social em uma história que nunca perde o tom divertido. O autor consegue manter a voz e a personalidade clássica dos personagens e ainda entregar um ar inovador, mais perspicaz, às relações. Exemplo disso é a hilária interação entre Minnie, Clarabela e Pateta. Há espaço para que todos brilhem, enquanto o plot central continua sendo desenvolvido com maestria. Isso tudo só é possível porque Loisel sabe muito bem como trabalhar os quadros e dinamizar o roteiro.

O charme da arte de Loisel é um dos pontos altos da HQ. A combinação entre a estética retrô e a quadrinização em formato horizontal conquista nosso olhar de imediato, com cores que são ao mesmo tempo vibrantes e esmaecidas e um traço muito expressivo. A cuidadosa narrativa gráfica permite que nossos olhos transitem entre as páginas com uma fluidez que remete à animação.

Temos aqui um desenho do Mickey nas páginas, mas com tudo o que um quadrinho pode oferecer: onomatopeias, exageros e a maturidade do trabalho de um artista tão fantástico quanto Régis Loisel. Café Zumbi cumpre exatamente tudo o que o selo BD Disney nasceu para ser.