De JeanLouis Tripp
344 páginas
Nemo | 2023
Tradução: Renata Silveira
JeanLouis Tripp entrega tudo de si em Meu Irmão Caçula. São quase 350 páginas dedicadas às memórias de um luto, antes abafado, que se projetou em forma de quadrinho. Seu irmão Gilles, de apenas 11 anos, foi vítima de um atropelamento, em 1976. Mais de 40 anos depois, o quadrinista relembra esse momento trágico e todas as consequências da perda de um irmão, de um filho, de um neto. As marcas profundas na vida familiar de Tripp são expostas, assim como os seus pensamentos mais íntimos e as fases do luto.
O autor não tem pressa. Nos conduz ao contexto do acidente, enquanto a família curtia as férias. Sabemos o que irá acontecer, mas o momento não perde o tom de tragédia. Tripp congela o tempo, nos coloca em sua perspectiva. Sentimos o choque e o trauma, através dos seus olhos. Depois a vida nunca mais seria a mesma.
Não há pressa também para as consequências. Em saltos temporais, o quadrinista leva o leitor ao momento presente, quando ele conversa em chamada de vídeo com a mãe, tentando relembrar detalhes do velório. Essa mistura entre passado e presente é bem conduzida e reflete que apesar do tempo, essa é uma ferida muito difícil de ser cicatrizada. E é isso o que vemos à medida que as páginas avançam. Tripp escancara seu sentimento de culpa e impotência, a dor de seus pais, a dificuldade de retomar a vida sem Gilles.
Meu Irmão Caçula é dramático, não há como negar. Mas é um drama genuíno, que soa desesperado nas horas mais trágicas, como deve ter sido naquele 5 de agosto de 1976. As expressões são marcadas por um tom terroso denso e as reflexões de Tripp são traduzidos em metáforas visuais. Há também um uso pontual de cores, tudo dentro de um propósito que fica muito claro para o leitor.
É impossível segurar as emoções diante dessa história. Pela sinceridade do autor, mas principalmente pela forma como ele nos conduz na espiral de eventos desde a morte de Gilles. Lançado pela editora Nemo, Meu Irmão Caçula é fruto de um evento traumático, mas acabou se tornando também uma homenagem. Tripp fez milhares de leitores, da França ao Brasil, conhecerem de perto seu irmãozinho. Tornou aquela dor menos solitária, ao compartilhá-la conosco.