Meu Diário de Nova York

20 julho 2022

De Julie Doucet
104 páginas
Veneta | 2022

Uma autobiografia nada autopiedosa, Meu Diário de Nova York é a primeira HQ da canadense Julie Doucet a ser publicada no Brasil (e na América Latina). Reunindo histórias lançadas entre os anos de 1995 e 1998, na sua celebrada revista Dirty Plotte, o quadrinho segue a juventude da autora, que foi educada em um colégio católico para meninas, cursou de Belas Artes e ascendeu no cenário underground, se tornando um sucesso de crítica.

Logo de início, nos deparamos com uma história em que Julie relata a sua primeira experiência sexual. Ali já podemos perceber sua sinceridade e seu olhar peculiar para retratar pessoas e situações. Essa seria a primeira de uma série de relações frustrantes, tanto sexual quanto emocionalmente, que são representadas na HQ.

E é justamente um relacionamento que a leva a viver em Nova York, na história que dá nome ao álbum. Julie, que já começava a ter sucesso, decide deixar Montreal para dividir um apartamento com o namorado e, assim, desenvolver sua carreira em solo norte-americano. A dinâmica entre os dois passa a ditar o ritmo da obra, à medida que o romance se torna cada vez mais nocivo.

Doucet não romantiza nada, muito pelo contrário, ela escancara os elementos tóxicos da convivência, seus problemas pessoais, tudo o que a afetava. Essa maneira íntima de se expor nos conquistou, mesmo quando a história perde fôlego em algumas passagens. Na verdade, pode ser difícil se habituar à narrativa, em um primeiro momento, mas à medida que a trama avança, toda a honestidade que transborda das páginas se torna um fio condutor.

A arte é autêntica, repleta de miudezas que compõem as cenas e dão uma imagem carregada para os ambientes. Há um aspecto escatológico, sujo, que caracteriza o trabalho de Doucet e traz uma representação feminina, e até mesmo do olhar feminino, distante dos padrões.

Meu Diário de Nova York pode não ser um quadrinho que conquiste a todos, mas é, sem dúvidas, uma publicação importantíssima. Vencedora do Grand Prix em Angoulême, este ano, a quadrinista explora suas vivências de uma maneira sincera, quase subversiva. É essencial que trabalhos como o dela sejam visibilizados.

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