De Merwan
200 páginas
Comix Zone | 2023
Tradução: Fernando Paz
Mecânica Celeste é uma leitura surpreendentemente divertida, embora tenha um roteiro já bastante reciclado. O quadrinista Merwan cria um espetáculo visual para contar sua história distópica, que envolve completamente o leitor.
Ano 2068: a sociedade como conhecemos chegou ao fim. Neste universo, as pessoas vivem em pequenos grupos urbanos, e cada comunidade tem suas próprias regras e líderes. Pan é um desses centros populacionais. Lá vamos acompanhar Aster, que apesar de morar há anos no território, não nasceu ali e, por isso, é rejeitada por grande parte da população.
Alheios ao que acontece no resto do planeta e tendo como base da economia a agricultura, os moradores de Pan têm sua sobrevivência colocada em risco pelo contato com militares da república de Fortuna – um território muito mais moderno. Fortuna exige que a região se submeta a ela, além de ceder uma quantia considerável da sua produção de arroz. Caso Pan não aceite, Fortuna a tomará à força.
Sem saber o que fazer, os habitantes de Pan descobrem que podem recorrer à Mecânica Celeste para se salvar. Nesse sistema, o destino é definido pela vitória em um jogo parecido com a queimada.
A HQ se destaca pelo enredo fluido, que na parte “esportiva” brilha com seu dinamismo e sequências de tirar o fôlego. Sua narrativa impressiona, assim como a arte deslumbrante. Você não se perde em nenhum momento, mesmo com o ritmo frenético dos confrontos. Merwan também faz um bom trabalho aumentando a tensão que antecede o início dos jogos.
Mecânica Celeste funciona também como uma história de jornada do herói e Aster é uma protagonista super carismática. No entanto, por se concentrar muito nas partidas, os personagens e o universo do quadrinho são poucos desenvolvidos. Esse é o ponto que mais nos incomodou: a falta de contexto e algumas coincidências desnecessárias no roteiro.
Como qualquer distopia, Mecânica Celeste é afiada ao criticar sistemas de poder. Publicado pela Comix Zone, a HQ sabe usar em seu benefício engrenagens já conhecidas, ao acrescentar sua personalidade própria.