Más Companhias

11 maio 2023

De Ancco
192 páginas
Veneta | 2023
Tradução: Yun Jung Im

Jinju Wang apanha do pai e dos professores por seu mau comportamento. São verdadeiras surras, acompanhadas de insultos, que deixaram marcas permanentes. Ao falar dessa adolescente de 15 anos vivendo o auge de sua rebeldia, Ancco revisita algumas de suas próprias memórias e traz, em Más Companhias, um relato melancólico de uma Coreia do Sul conservadora, hipócrita e absolutamente injusta com as mulheres.

Ambientado no fim dos anos 1990, o manhwa se desenvolve entre passado e presente, usando flashbacks pouco marcados, que deixam muito tênue a linha entre os tempos. Os abusos físicos e psicológicos que Jinju sofre a conectam diretamente com sua melhor amiga, Jeong-ae. Ela é uma espécie de refúgio e de estímulo, afinal, ao seu lado a protagonista parece sentir a invencibilidade própria da adolescência. Juntas, elas decidem fugir de casa e cuidar de suas próprias vidas, mas é inevitável supor que o mundo não será acolhedor para essas duas.

Ancco consegue equilibrar o frescor dessa fase da vida, com os seus momentos mais tensos. A quadrinista carrega Más Companhias de uma honestidade até crua, inclusive, nos momentos situados no presente, quando acompanhamos uma Jinju já adulta. E mesmo com os repetidos socos nos estômago ao longo da leitura, estamos diante de uma história de amizade comovente, que não deixa também de ser um drama de formação diante de uma sociedade punitivista.

A narrativa é intensa, bem ritmada, com diálogos que dão voz e personalidade às meninas que protagonizam a HQ. A arte e as transições exigem atenção, para que não se confunda os personagens. Destaque para o contraste entre cenários, sempre mais realistas, enquanto as garotas têm traços mais simples, ainda assim muito eloquentes.

Lançado pela Veneta, Más Companhias é uma leitura forte, daquelas que nos acompanham por dias. A complexidade das situações, das personagens, da realidade ali exposta são alinhadas para tornar essa obra altamente relacionável, independente do contexto: todos nós já tivemos aquela(o) melhor amiga(o) da adolescência.

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