De Miguelanxo Prado
64 páginas
Conrad | 2023
Tradução: Claudio Martini
Com alguns elementos bem próprios da produção de Miguelanxo Prado, e outros já mais distantes daquilo que, até então, tínhamos visto do quadrinista, Manuel Montano – O Manancial da Noite é um conjunto de histórias detetivescas, protagonizadas pelo homem que dá nome ao quadrinho. Quadrinho este que é uma adaptação, Montano na verdade surgiu em uma radionovela espanhola, nos anos 1980, criada por Fernando Luna.
O cenário é sujo, dominado por figuras masculinas, mas salpicado da sensualidade feminina. Como um noir mais decadente, que se assemelha bastante ao centro de grandes cidades. Nesse contexto, em cada uma das seis histórias que compõem o álbum, o detetive investiga pequenos crimes e busca pelo manancial da noite. Nem ele nem o leitor sabem ao certo o que é esse tal manancial. Embora seja como um fio condutor, esse toque quase onírico, que se encaixa bem com o que Miguelanxo Prado apresenta em suas obras, parece subaproveitado aqui.
As histórias são cheias de anedotas e situações que dão um ar cômico ao quadrinho, mas em sua maioria elas parecem entregar só um lampejo daquele universo. A sensação ao final é de uma espécie de incompletude, que faz com que seja difícil se conectar com aquelas tramas. Porém, há de se lembrar que a relação com a radionovela, bem popular em seu tempo, pode ter feito com que essas histórias soassem muito mais familiares para o público original.
O ponto alto é mesmo o humor. Seu auge está no último episódio, Conversações, quando Montano é roubado por seu amigo Pesca e, em seguida, os dois vão juntos a um boteco, para encerrar a noite. A rodada é curiosamente paga pelo amigo ladrão, afinal, após o furto, o detetive estava sem nenhum tostão.
A arte de Miguelanxo Prado retrata bem o ambiente de decadência apresentado, exagerando as expressões e deixando propositalmente mais voluptuosas as formas femininas. Como se estivessem moldadas pelo olhar dos homens que as cercam.
Publicado pela Conrad, que também lançou Tangências e O Pacto da Letargia, Manuel Montano não tem o mesmo poder de outras obras do autor. Mesmo que tenha bons momentos e personagens, o resultado final é um quadrinho que pouco nos impacta.