O mercado brasileiro de mangás ganhou, no último sábado (30), uma novidade e tanto: o inesperado lançamento de “Hajime no Ippo” pela MPEG. A chegada da aclamada obra de Joji Morikawa, ainda em andamento no Japão e já com quase 150 volumes publicados, reacendeu o debate a respeito da publicação de séries longas no país.
Nos últimos anos, séries consideradas longas se tornaram quase um “tabu” entre as editoras nacionais, que tendem a apostar em coleções mais curtas, geralmente com até 15 ou 20 volumes. Ainda assim, o Brasil já recebeu diversas publicações de grande fôlego. Pensando nisso, o Fora do Plástico preparou um levantamento com os cinco mangás mais longos já lançados (ou em andamento) por aqui.
Obs: Séries canceladas ou publicadas apenas de forma parcial, como “Futari H” (93 volumes no Japão; cancelado no Brasil com 42 volumes em meio-tanko, pela JBC) e “Golgo 13” (216 volumes no Japão; histórias selecionadas reunidas em três volumes pela JBC) não foram consideradas.
5º Naruto (Panini)
Completa em 72 volumes
Quinto colocado da lista, “Naruto” já recebeu três edições no Brasil, todas elas pela Panini. Publicado no Japão entre 1999 e 2014, a criação de Masashi Kishimoto apresentou ao mundo um dos personagens mais icônicos da história dos quadrinhos japoneses. Com mais de 250 milhões de cópias em circulação no mundo, “Naruto” se tornou um verdadeiro fenômeno. No Brasil, o sucesso foi tamanho que a série acabou virando praticamente sinônimo de mangá, conquistando uma base de fãs ampla e fiel, que atravessa diferentes gerações de leitores.
Lançado originalmente na Shonen Jump, da Shueisha, a obra foi reunida em 72 volumes. A Panini lançou sua primeira edição em 2007, em formato semelhante ao padrão tanko japonês, com cerca de 200 páginas por livro. O último número foi publicado por aqui em junho de 2015. Entre 2010 e 2016, a editora publicou uma versão pocket, mantendo o número de páginas, mas reduzindo as dimensões. De 2015 a 2021, a editora apostou em uma edição com acabamento mais sofisticado, a “Naruto Gold Edition”, que também mantinha a quantidade de páginas por exemplar, mas dessa vez não alterava suas dimensões, apenas detalhes como o papel e a laminação da capa.
4º Bleach (Panini)
Completa em 74 volumes
Escrita e ilustrada por Tite Kubo, a saga do jovem shinigami Ichigo e de seus companheiros da Soul Society foi contemporânea da obra de Masashi Kishimoto na Shonen Jump, sendo publicada entre 2001 e 2016. Ao longo de 15 anos, a série alcançou 74 volumes, o que lhe garante a quarta colocação entre os mangás mais longos já lançados no Brasil.
Diferentemente de “Naruto”, a obra de Kubo contou com apenas duas edições nacionais, ambas pela Panini. A primeira, em formato tanko, foi publicada entre 2007 e 2017. Já a segunda, uma edição especial 3 em 1, chegou em 2022 e foi concluída em fevereiro de 2025, totalizando 26 volumes.
Embora o arco final tenha dividido opiniões e recebido críticas de parte dos fãs, “Bleach” permanece como um dos shounens mais queridos entre os leitores brasileiros. A adaptação animada desse desfecho, intitulada “Bleach: Thousand-Year Blood War”, estreou em 2022 e segue em andamento, com a quarta temporada prevista para o próximo ano. O título já ultrapassa a marca de 130 milhões de cópias em circulação ao redor do mundo.
3º One Piece (Panini)
112 volumes, em andamento
O mangá mais vendido de todos os tempos, “One Piece” já foi, por um período, também a série com o maior número de volumes em publicação no Brasil. Publicado pela Panini desde 2012, após um primeiro lançamento cancelado pela Conrad nos anos 2000, o trabalho de vida de Eiichiro Oda segue em andamento na Shonen Jump desde julho de 1997. Atualmente, soma 112 volumes no Japão, com o 111º previsto para chegar ao Brasil em outubro.
Assim como “Naruto”, a jornada de Luffy em busca do sonho de se tornar o Rei dos Piratas recebeu três edições no Brasil. A primeira, publicada pela Conrad, começou em 2002 e foi cancelada em outubro de 2008, totalizando 70 volumes no formato meio-tanko — termo criado pela própria editora para definir a divisão de um tankobon japonês em dois livros de cerca de 100 páginas.
Além do relançamento no formato original, que segue em andamento já que a série ainda não foi concluída no Japão, a Panini publica também uma edição 3 em 1. Em junho, essa versão chegou ao seu 36º volume e deve alcançar em breve a coleção regular, o que deve ocorrer já com o lançamento do tomo #37.
Dependendo de quanto da história ainda resta e do ritmo de publicação que Eiichiro Oda conseguir manter nos próximos anos, é possível que “One Piece” alcance os dois primeiros colocados desta lista, ainda que exista uma boa margem de distância. Já o título de mangá mais vendido da história permanece com o Bando do Chapéu de Palha e seus mais de 500 milhões de exemplares em circulação.
2º Jojo’s Bizarre Adventure (Panini)
137 volumes, em andamento
No segundo lugar do pódio, “Jojo’s Bizarre Adventure” muitas vezes passa despercebido quando pensamos em séries longas em publicação no Brasil. Isso acontece, em parte, por conta da divisão da obra em sagas, o que dá a impressão de uma coleção fragmentada no imaginário dos leitores. Além disso, a edição lançada pela Panini segue o formato japonês bunkoban, que reúne cerca de 100 páginas a mais do que um tankobon tradicional — fator que reduz o número total de volumes. Ainda assim, a criação de Hirohiko Araki soma, em sua forma original, 137 volumes e segue em andamento desde 1986, quando estreou na Shonen Jump.
A história da família Joestar e sua luta contra ameaças sobrenaturais só chegou oficialmente aos leitores brasileiros em 2018, após anos de expectativa, pedidos insistentes nas redes sociais e uma sensação quase fatalista de que a série jamais seria lançada por aqui. Desde 2012, com a estreia do anime produzido pela David Production, “Jojo” se tornou um verdadeiro fenômeno entre fãs de cultura pop japonesa, viralizando em memes e piadas.
Essa popularidade peculiar, porém, trouxe um dilema às editoras brasileiras: seria o apelo cômico e extravagante dos personagens suficiente para sustentar as vendas de um mangá tão longo e de origem relativamente antiga? Ou poderia se tornar um obstáculo comercial? Para alegria dos fãs, o receio acabou ficando para trás. Hoje, com reimpressões recorrentes de volumes que esgotam rapidamente, a publicação da Panini, atualmente na sétima parte da obra, dá sinais claros de que “Jojo” está performando de maneira bastante satisfatória.
1º Hajime no Ippo (MPEG)
144 volumes, em andamento
No topo da lista, “Hajime no Ippo” é o único entre os cinco títulos que não surgiu na Shonen Jump, a mais popular revista de mangás do Japão, e também não integra o catálogo da Panini no Brasil. Anunciada pela MPEG no último sábado (30), durante o 2° MPEG Fest, a obra de Joji Morikawa tem uma trajetória semelhante à de “Jojo” e, por muito tempo, foi vista como um verdadeiro “sonho impossível” para o mercado nacional.
Serializado na Shonen Magazine, da Kodansha, desde 1989, “Hajime no Ippo” já soma 144 volumes encadernados e segue sem previsão para chegar ao fim. Recentemente, o título celebrou a marca de 1.500 capítulos publicados no Japão. A trama acompanha Makunouchi Ippo, um estudante que, cansado de sofrer com os valentões da escola, decide aprender boxe. Dividido entre a rotina escolar e o trabalho na loja de barcos da família, ele logo descobre talento para o esporte e passa a sonhar com o cinturão de campeão mundial.
No Brasil, a jornada de Ippo começou de forma surpreendente: o mangá foi lançado no mesmo dia em que a licença foi anunciada. A edição nacional chegou em formato 2 em 1 e com preço abaixo do praticado normalmente para encadernados semelhantes, uma estratégia clara para incentivar leitores a se arriscarem em uma coleção tão longa, cuja adesão costuma ser uma decisão cautelosa.
Se a chegada de “Hajime no Ippo” representará um divisor de águas e abrirá espaço para outros títulos extensos e populares no país, só o tempo dirá. O certo é que fãs de obras como “Kingdom”, “Gintama” e outros mangás até então considerados “impossíveis” para o mercado brasileiro agora têm um novo motivo para acreditar.