Kraken

De Antonio Segura e Jordi Bernet
184 páginas
Figura Editora | 2020
Tradução: Ernani Ssó

Kraken reúne dois gigantes dos quadrinhos espanhóis: Antonio Segura e Jordi Bernet. Com críticas sociais gritantes em um roteiro que está no meio caminho entre a ficção científica e o terror, a HQ apesar de ter no título uma referência ao elemento sobrenatural da história, é muito mais ligado à realidade do que você imagina.

Todas as histórias de Kraken se passam no mesmo cenário: os esgotos de Metropol, um ambiente propício para atividades ilegais, quase como um refúgio de criminosos. Lá acompanhamos os krakeneiros, a polícia desse subsolo, que busca manter a justiça no local. Liderado pelo tenente Dante, o departamento não precisa se preocupar apenas com assassinos, estupradores e traficantes. Existe uma criatura sobrenatural que ronda o lugar, uma espécie de monstro lovecraftiano, originado da contaminação, da podridão dos compostos químicos e orgânicos expelidos nos esgotos.

Mesmo sendo uma figura temida e o motor da HQ, as histórias não são necessariamente sobre a criatura em si ou o seu confronto com os krakeneiros. Kraken é mais uma peça no tabuleiro, uma forma de representar os vícios e falhas do homem.

A obra tem um tom bem pessimista, de escancarar o pior do ser humano, a sujeira da sociedade. São histórias cruas que abordam o tráfico, a corrupção, o pior dos piores tipos de criminosos, sem mocinhos. Um aspecto que chama atenção são os textos escritos por Antonio Segura, posicionados entre os capítulos, e que contextualizam um pouco as tramas.

A arte de Jordi Bernet reforça o clima claustrofóbico da HQ. Vale dizer que seu desenho em preto e branco dá uma atmosfera bem enigmática e sombria, que é muito condizente com o enredo. Quem leu Torpedo 1936, a obra mais consagrada do desenhista, talvez encontre semelhança nos traços faciais dos protagonistas. São personagens bem parecidos.

Neste resgate da Figura Editora temos todos os contos da série, em um único volume. Ironia, violência e crueldade são pontos cruciais nas aventuras de Kraken. Apesar de muitas críticas sociais serem fruto do período em que a obra foi escrita, elas praticamente não envelheceram. Afinal, os verdadeiros monstros seguem sendo os próprios humanos.