
Joe Sacco, autor de “Palestina”, “Notas Sobre Gaza” e “Pagar a Terra”, revelou em uma entrevista ao The Comics Journal que não fará mais jornalismo em quadrinhos. A decisão acontece após mais de 30 anos desde sua primeira publicação, quando mostrou ao mundo com seus desenhos a realidade na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, no quadrinho que se tornou um clássico e uma referência para gerações.
De acordo com Sacco, “Souffler sur le feu”, publicado na França em 2024 e previsto para outubro deste ano em língua inglesa, com o título “ “, seria seu último trabalho jornalístico. A obra coloca uma lupa sobre uma série de incidentes violentos entre muçulmanos e hindus que ocorreram em três distritos da região de Uttar Pradesh, na Índia, em 2013. “Para mim, esse seria o último livro jornalístico que eu faria. Talvez realizasse projetos jornalísticos aqui e ali, mas não queria mais me dedicar a isso de verdade“, contou Sacco.
Ao longo de 2024, o quadrinista publicou, também no site The Comics Journal, o que viria a ser “Guerra em Gaza”, quadrinho que chega ao Brasil em julho pela Quadrinhos na Cia. Depois dos eventos de 2023, ele se sentiu na obrigação de retornar à Faixa de Gaza, mesmo que não presencialmente. Embora ainda tenha traços jornalísticos, Sacco descreve essa obra como um trabalho mais satírico, uma “cartilha política”.
É provável que esse seja o tom de suas obras futuras, reflete Sacco, porque fazer jornalismo aos moldes tradicionais, hoje o afeta profundamente. Ele explica o motivo:
“Porque o mundo é bruto. Depois de um tempo no jornalismo, isso acaba te afetando. Acho que, nos primeiros vinte anos, eu dava um jeito de lidar. Mas, conforme o tempo passa, você entra mais a fundo no que está rolando no mundo, no jeito como os seres humanos se comportam em certas situações. São temas muito dignos. Nunca vou dizer que não são. Mas, da minha parte, cheguei na minha cota […] Meus próximos trabalhos – mesmo que entrem pela sátira, quem sabe até pelo humor – na minha cabeça eles são sérios e dão continuidade ao projeto da minha vida. Mas de outro jeito. De um jeito que eu dê conta. Anda difícil desenhar o que os humanos fazem com outros humanos.” *
*Tradução de Érico Assis na Virapágina