De Patrick Prugne
104 páginas
Taverna do Rei | 2025
Tradução: Renata Silveira
Iroqueses é visualmente impressionante, como outros trabalhos do francês Patrick Prugne. Mas nem só de belas imagens se faz um quadrinho envolvente. Ao recontar o estopim da guerra quase centenária entre iroqueses e franceses nas terras do Quebec, o quadrinista se ancora em um fato histórico para construir uma trama semi-ficcional. No entanto, mesmo com a liberdade da ficção, Prugne entrega uma história que carece de vitalidade e dificilmente envolve o leitor nos acontecimentos.
O ano é 1609. O fundador da “Nova França”, Samuel de Champlain, se alia a alguns dos indígenas da região onde hoje é o Canadá, em prol do comércio de peles. Historicamente inimigas dos iroqueses, essas tribos tornaram-se parceiras estratégicas dos franceses que, para fortalecer a aliança, iniciam um conflito com a Haudenosaunee, ou Confederação Iroquesa. Aula de história à parte, pouco dessas informações é evidente durante a leitura da HQ. O que sabemos é que Champlain mantém refém uma indígena iroquesa e que deseja demonstrar sua força em uma incursão pelo território inimigo. Ao longo das páginas, buscamos compreender o caminho que a história irá tomar, mas nunca sentimos o peso do evento histórico adiante ou sequer nos importamos com qualquer personagem.
O quadrinista tenta construir tensão e alterna os pontos de vista entre o de Champlain e dos iroqueses. No entanto, a decisão acaba exigindo mais atenção do leitor, que pode se confundir principalmente nas caracterizações dos ameríndios. É evidente o intuito de Prugne ao contrastar cenários da natureza, como animais e paisagens, com a hostilidade entre povos, o que beneficia a trama, mas acaba se tornando um recurso repetitivo à medida que o quadrinho avança.
Patrick Prugne dedicou várias obras aos povos originários da América do Norte. Em Pocahontas, também publicado pela Taverna do Rei, já era possível perceber o tom adotado, que se repete aqui. Se focarmos na contemplação, na beleza das aquarelas, estamos diante de um quadrinho belíssimo, mas como um olhar mais amplo, é inevitável perceber que essa é uma história fria, distante do leitor, por mais que esse não fosse o objetivo de seu autor.