De Tommi Parrish
208 páginas
HQueria | 2024
Tradução: João Costa
Em Homens de Confiança, Tommi Parrish conta uma história honesta de pessoas tentando criar vínculos em um mundo cada vez mais difícil. Apesar do estilo visual que remete ao surrealismo, o enredo é profundamente realista, e se destaca justamente pela maneira verossímil com a qual os personagens são construídos.
A trama acompanha a relação entre duas mulheres presas em ciclos ruins: Eliza, mãe solo e sóbria há cinco anos, que se apresenta com poesia em bares à noite, e Sasha, uma fã solitária em busca de alguma conexão real. Parrish explora o que há de incômodo e belo nesses encontros: o esforço de se aproximar do outro mesmo em meio a traumas, vícios, inseguranças e desejos mal resolvidos.
O grande trunfo da HQ está na força de seus personagens. Parrish tem um olhar sensível e preciso para a complexidade das relações humanas, fazendo com que o leitor quase sinta, em cada diálogo e silêncio, os sentimentos dessas figuras tão falhas quanto reais. A forma como Eliza e Sasha são escritas, cheias de contradições e vulnerabilidade, é impressionante.
Outro ponto que chama atenção em Homens de Confiança é justamente essa ambiguidade. Não há personagem “bom” ou “mau”, apenas pessoas tentando, à sua maneira, lidar com a vida. De certa forma, as duas protagonistas são vítimas de um sistema opressor. Dito isso, o autor evita soluções artificiais e não entrega lições prontas. Ou melhor, ele não está preocupado em nos ensinar algo.
Os desenhos com proporções exageradas, corpos distorcidos e cores vibrantes, certamente causam estranheza. Há algo de desconcertante, um traço que foge de qualquer ideia de “simpatia” visual.
Publicado pela HQueria, Homens de Confiança se destaca pela forma realista com que aborda os afetos e as relações imperfeitas. Os desenhos podem causar estranheza à primeira vista, e há a sensação de que o quadrinho poderia explorar mais seu próprio potencial. Ainda assim, é um quadrinho que entrega ótimos momentos e um estudo, mesmo que despretensioso, sobre a solidão.