De Vinicius Galhardo
112 páginas
JBC | 2023
Escrito e desenhado por Vinicius Galhardo, Contos Indígenas – Irupé e Guaraná busca, como o próprio nome já diz, apresenta duas lendas de povos originários brasileiros. Uma já bastante famosa, outra menos conhecida, mas sobre um fruto muito popular. Com uma capa que já convida para a leitura, a HQ consegue misturar a fantasia a elementos tradicionais dessas culturas, sem perder de vista as necessidades da narrativa.
O primeiro conto, Irupé, conhecido como a lenda da vitória-régia, já havia sido publicado de forma independente pelo autor, em 2018. Ao acompanhar a paixão da jovem indígena Naiá, pela radiante Jaci, a lua, mergulhamos nas crenças do povo tupi-guarani. No entanto, é possível perceber o amadurecimento do quadrinista, quando se compara as duas histórias do álbum. Essa primeira, embora desperte a curiosidade do leitor, é mais direta, e se alonga pouco em trechos que poderiam ser mais explorados. Vinicius opta por usar palavras e expressões em tupi, nos diálogos, o que é interessante para o contexto, mas deixa o texto pouco fluído, mesmo em uma história tão curta.
Já Guaraná, é uma história mais longa, em que o autor adapta elementos do mito original, para desenvolver mais a lenda da origem do fruto, para o povo Sateré-Mawé. O guaraná possui valor econômico, cultural e espiritual para os indígenas, como observa Aruaçú Ratxia Koiupanká, em um dos textos que compõem a edição. Aqui os diálogos são mais fluidos e a trama ganha ares de suspense e aventura, com a dualidade entre Tupã e Jurupari.
A arte, rica em hachuras, é o ponto alto da HQ e consegue nos imergir naqueles cenários, enquanto é criativa e mantém uma boa unidade visual. Os quadros são todos formados por plantas entrelaçadas, como uma moldura direto da floresta. Na segunda história, quando o ambiente é o lar celeste de Tupã, os recordatórios se tornam nuvens e o quadrinista brinca com a mistura de elementos na página.
Publicado pelo selo Start, da JBC, Contos Indígenas – Irupé e Guaraná traz como proposta amplificar as vozes indígenas. O quadrinista, que tem projetos junto a vários povos, consegue dar um belo contorno a essas lendas, mantendo a sua identidade.