Confinada

27 novembro 2021

De Leandro Assis e Triscila Oliveira
128 páginas
Todavia | 2021

Confinada é um caldeirão de críticas, em uma visão microscópica do abismo social brasileiro. Leandro Assis e Triscila Oliveira publicaram a história, em capítulos no Instagram, ao longo de 2020, durante a pandemia. Agora, a obra ganhou versão impressa pela editora Todavia, após uma campanha de grande sucesso no Catarse. Na trama, o leitor acompanha Fran, uma blogueira, herdeira de uma família milionária, e Ju, que trabalha como doméstica na casa de Fran e se vê coagida a passar o período de isolamento social com ela.

Fran é o ápice da futilidade: usa discurso “goodvibes” enquanto milhares morrem, se aliena da realidade do país, reproduz pensamentos e comportamentos racistas o tempo todo e tem um senso de superioridade por sua classe social. É por meio dos seus posts no Instagram e dos bastidores, na vida real, que o leitor observa o olhar crítico de Leandro e Triscila. É que existem várias “Fran’s” por aí, porém nem todas milionárias como ela. E existem incontáveis “Ju’s”: mulheres negras que precisam abdicar de suas próprias vidas e famílias, em uma sociedade que as deixa sempre à margem.

A dinâmica do digital segue funcionando na forma impressa. Apesar de ter sido publicada em capítulos, não há lapsos na trama. À medida que a história avança, vemos Ju se tornar cada vez mais protagonista desta história. E, sem dúvidas, o terço final da obra a torna ainda mais memorável.

A arte de Leandro Assis casa muito bem com a proposta do quadrinho, com destaque para as expressões dos personagens, principalmente de Fran. A edição da Todavia também merece elogios, pela inventiva capa dupla, que brinca com as “duas confinadas”, e pelo cuidado ao pensar a experiência desta obra na versão impressa.

Confinada é uma leitura fluida, em que é impossível ficar indiferente. Nos indignamos com Fran e sua família; rimos (de nervoso) da hipocrisia da blogueira; torcemos pelo sucesso de Ju e, por fim, sentimos esperança a partir da tomada de protagonismo dela. Mesmo que escancare um Brasil com um profundo abismo social e racial, Confinada também nos faz acreditar que há um caminho para mudar.

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