Cidade de Vidro

16 março 2022

De Paul Karasik e David Mazzucchelli (Adaptação do conto de Paul Auster)
144 páginas
Mino | 2022

Tradução: Thiago Lins

Cidade de Vidro é um casamento perfeito entre roteiro e arte. Isso porque a adaptação do conto de Paul Auster nem parece, de fato, uma adaptação. Daria para imaginar até que ela já foi pensada em quadrinhos, com suas metáforas visuais. E é por isso que Art Spiegelman (que, de certa maneira, foi padrinho dessa HQ) diz, no prefácio, que a versão em quadrinhos é um duplo do original. É um novo caminho, uma nova forma, para aquela mesma história, antes contada em prosa.

Adaptado por Paul Karasik e David Mazzucchelli, o conto segue Quinn, um escritor que vive uma vida solitária, após a morte da esposa e do filho. Em uma tentativa de se deslocar dessa tragédia, ele passa a escrever livros de mistério, usando um pseudônimo. Até que sua rotina é interrompida por uma ligação, um engano, na verdade. Uma mulher procura um certo detetive particular, chamado Paul Auster. Quinn informa que aquela ligação é um engano. Até que, depois de outras chamadas, ele decide absorver aquela identidade, tal qual o protagonista de seus livros, e aceitar a investigação. É assim que Quinn conhece a história de Peter Stillman e de seu pai.

Além da camada mais superficial, uma investigação que prende a atenção do leitor, o roteiro propõe que pensemos sobre questões mais densas. Auster mistura semiótica, com um debate sobre a linguagem e os símbolos, e discussões sobre a identidade de um indivíduo, ao longo da história. Imagine o quanto isso deve ser difícil de traduzir para uma HQ? Karasik e Mazzucchelli fazem isso brincando com a linguagem dos quadrinhos: composição dos quadros, tipografia e recursos gráficos. Tudo no traço limpo e elegante de Mazzucchelli. Inclusive, é possível observar alguns elementos que ele usaria, depois, no seu celebrado Asterios Polyp.

Cidade de Vidro não é uma leitura fácil. É até natural que o leitor termine com muitas perguntas, não sobre a história em si, mas sobre as questões filosóficas que ela suscita. Sem dúvidas, a republicação pela editora Mino dessa obra, lançada anteriormente pela Via Lettera, era mais do que necessária.

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