De Michele Masiero e Fabio Valdambrini
292 páginas
Editora 85 | 2023
Tradução: Julio Schneider
Um faroeste autêntico, publicado pela Editora 85, Cheyenne usa de forma assertiva o conflito entre indígenas e brancos como base para a trama. Roteirista da trilogia Mister No – Revolução e do primeiro volume de Deadwood Dick, Michele Masiero conta uma história cheia de saltos temporais, que equilibra ação e drama, mas que poderia se beneficiar de mais profundidade no desenvolvimento de seus personagens.
Nas primeiras páginas, nos deparamos com um verdadeiro massacre do Exército dos EUA a uma aldeia cheyenne. O objetivo da matança, ou o pretexto, era resgatar um jovem branco, neto do xerife Ray Henderson, raptado ainda bebê pelos indígenas. O rapaz foi criado como um cheyenne, falava apenas sua língua e seguia sua cultura. Já para Henderson, o luto havia deixado marcas profundas, não apenas pela perda do neto, mas também pelo falecimento do filho e da nora durante o ataque indígena que culminou no rapto. Premissa muito convidativa.
Masiero dá ao leitor o contexto necessário para compreender os dilemas de seus protagonistas, porém acrescenta vários saltos no tempo, para o passado e para o futuro, que fragmentam a narrativa. Embora seja um diferencial na HQ, esse recurso é também a causa do principal problema neste faroeste. Com as mudanças temporais, o roteiro precisa se concentrar na contextualização daquele período, e sobra pouco espaço para que conheçamos melhor os personagens e, assim, nos conectemos com eles. Podemos dizer que sabemos o suficiente para entender que Cheyenne não é uma história sobre mocinhos e vilões.
Fabio Valdambrini capricha nas caracterizações e usa bem as hachuras. As passagens de tempo são marcadas por transições na arte e pela própria mudança no visual dos personagens, mas ainda assim é necessário estar atento aos detalhes para evitar confusões.
Cheyenne é uma história ambiciosa, ao passo que também não busca ser muito mais do que uma aventura de época, reproduzindo tropos do gênero faroeste, com um bom final para amarrar toda a proposta. Masiero atinge seu objetivo: essa é uma leitura empolgante. Ainda assim, seria ótimo poder imergir mais nesse ambiente e nas personalidades dos protagonistas.