Bórgia

10 julho 2023

De Alejandro Jodorowsky e Milo Manara
228 páginas
Pipoca & Nanquim | 2023
Tradução: Fernando Paz

Em Bórgia, Alejandro Jodorowsky faz uma combinação de todos os rumores mais torpes sobre a família do Papa Alexandre VI, partindo do princípio de que eles foram o primeiro clã mafioso da história. Enquanto Milo Manara retrata graficamente as intrigas e luxúrias desses personagens da Renascença italiana.

A edição lançada pela Pipoca & Nanquim reúne a história completa, que vai da ascensão de Rodrigo ao posto de papa à ruína dos Bórgia. A capa não esconde o tom erótico do quadrinho. Erotismo que faz parte da condução da trama, afinal, as ações de Rodrigo Bórgia e de seus filhos bastardos Lucrécia, César e Giovanni estão sempre cercadas pela lascívia, apesar de estarem no seio da celibatária Igreja Católica. A clássica dicotomia entre o sagrado e o profano segue com outros sacrilégios, uma maneira do roteirista evidenciar o absoluto desprezo por qualquer senso de culpa cristã que o clã poderia ter. Assassinatos, tortura e outras situações inomináveis dominam as páginas, em parte apenas para chocar o leitor.

É retratando esse caos, que envolve as relações íntimas dos personagens, mas também o contexto político real dos Bórgia em seu tempo, que Manara entrega páginas impressionantes. Os cenários e a ambientação se encaixam com a atmosfera luxuriante e as cores são vivas, tal qual nas pinturas renascentistas. Como de costume, é difícil identificar as mulheres, já que os rostos são sempre muito parecidos.

Sem se comprometer com a precisão histórica, o roteiro intensifica e altera fatos ou rumores a serviço do entretenimento do leitor. Com essas liberdades, Jodorowsky desenvolve uma história com diálogos que soam teatrais e com um ritmo inconstante: se alonga nas cenas chocantes ou sensuais, e se encurta nas situações mais políticas, que também são essenciais para o quadrinho. É assim que Bórgia tem uma conclusão praticamente anticlimática. O recurso usado é interessante, mas a execução é apressada, se considerado os três volumes iniciais.

Uma ficção histórica, Bórgia entrega toda a devassidão que se poderia esperar em uma HQ sobre uma família famosa justamente por isso. Porém, com um desenvolvimento aquém daquele que os Bórgia poderiam ter.

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