De Tom King e Mitch Gerads
64 páginas
Panini Comics | 2023
Tradução: Yuri A. O. Primitz
Cheio de referências à Piada Mortal, Batman Um Dia Ruim: Charada caminha nos mesmos passos da história de Alan Moore e Brian Bolland. Apesar disso, Tom King e Mitch Gerads usam os elementos importados do clássico da DC, sem perder sua própria identidade. É possível perceber isso logo nas primeiras páginas deste quadrinho.
Usar A Piada Mortal como base é parte da lógica da coletânea Batman Um Dia Ruim, que traz em histórias fechadas tramas em que o homem-morcego enfrenta alguns de seus principais vilões. Neste caso, estamos diante de uma história em que o Charada parece ter mudado seu modus operandi. Desta vez não existe enigma, não existem pistas. Ele simplesmente assassina uma pessoa comum e aguarda que seja preso. Essa é uma maneira de Edward Nigma mostrar ao Batman do que ele realmente é capaz.
Em paralelo, um jovem Edward se esforça para corresponder às expectativas do pai, o diretor de um colégio de alto padrão. É a origem do Charada sendo contada, assim como Moore havia feito com o Coringa em A Piada Mortal. O uso dos flashbacks é uma referência clara, mas é inventivo à sua maneira. Ele é capaz de tornar Edward um garoto acuado que busca por aprovação paterna. A forma como Tom King associa a relação do vilão com as charadas é criativa e colabora para que esses ecos do passado tornem a história do presente mais interessante.
Muitos diálogos, desenvolvimento psicológico complexo, linhas temporais distintas. Mesmo em poucas páginas, o roteiro consegue ganhar o leitor, fisgar seu interesse. A arte é um espetáculo à parte, Mitch Gerads trabalha bem os contrastes. Destaque para o uso do verde, cor tradicionalmente associada ao Charada. A distinção entre passado e presente, ganha tons avermelhados, quase como se quisesse conquistar a empatia do leitor.
Para quem nunca teve contato com A Piada Mortal, essa HQ do Charada em nada é proibitiva, até mesmo para leitores pouco acostumados ao cânone do Batman. As referências estão por toda parte, mas o fundamental é o desenvolvimento de personagens que King consegue entregar nessa história que é mais do que apenas uma relação vilão vs. herói.