De Eric Baket
48 páginas
Mino | 2023
Bancarrota causa espanto. É impressionante como Eric Baket, em sua estreia, apresenta uma narrativa tão consistente e segura. Ele nos propõe uma história com ares de cinema, sua grande inspiração, e consegue conduzi-la muito bem, em suas 48 páginas.
Década de 1960. O ghost writer de meia-idade Carbone conhece Alice, uma jovem dançarina que fugiu de casa e passou a se apresentar em uma casa noturna, que o escritor frequenta com amigos. Esse contato e suas consequências impactam a vida de ambos, sobretudo a de Carbone, que andava desiludido com a carreira e acomodado em sua posição social. Nada será como antes.
Eric se preocupa minuciosamente com a construção de seus personagens e suas relações, principalmente do protagonista Carbone. Os diálogos são um ponto alto, bem ritmados, realistas, mas ao mesmo tempo com a carga noir que a obra busca passar. É a partir deles que compreendemos as personalidades, os conflitos propostos, o contexto ao redor. Mas há também espaço para os silêncios e para as deduções do leitor.
A arte é outro ponto alto. Firmada no contraste entre preto e branco, a estética é o que marca em definitivo essa história como um noir. Há algo de Alack Sinner, porém mais econômico nas linhas, com formas bem distintas. Charme, tensão, distanciamento, tudo fica palpável pelas escolhas dos enquadramentos e do uso de luz e sombra.
Naquelas 48 páginas, Eric constrói uma trama que mistura desejos, medos, opressão, ausências e outras nuances, sem parecer perdê-las de vista. Parte do projeto Narrativas Periféricas, da editora Mino, Bancarrota é contido, como um curta-metragem que nos satisfaz com sua ligeira precisão. Uma HQ que merece destaque entre as publicações nacionais deste ano.