Associação Israelense de Quadrinhos critica vitória de Joe Sacco no Eisner Awards

14 agosto 2025
Por Fora do Plástico


A Associação Israelense de Quadrinhos criticou duramente a escolha de Joe Sacco como vencedor do Prêmio Eisner 2025, na categoria Melhor Edição Única por “Guerra em Gaza”. Em um comunicado assinado por Uri Fink e Michel Kichka, respectivamente presidente e vice-presidente, a associação afirma que a premiação de Sacco mancha tanto os vencedores passados quanto os atuais da principal premiação de quadrinhos da indústria norte-americana.

Recém-lançada no Brasil pela Quadrinhos na Cia., “Guerra em Gaza” é descrita na nota como “um panfleto que atravessa a fronteira entre a reportagem e a propaganda pura, uma ferramenta de ódio antissemita e anti-sionista”. O quadrinho de Sacco centrado no atual estado de crise humanitária em Gaza destaca, principalmente, a participação dos Estados Unidos no financiamento e apoio a Israel.

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Inédito no Brasil e pouco conhecido fora de Israel, Uri Fink é um dos quadrinistas mais renomados do país. O artista se debruçou sobre a questão Israel-Palestina em alguns de suas HQs. A última, “Au coeur du 7 octobre: Témoignages” (No Coração de 7 de Outubro: Testemunhos, em tradução livre) aborda o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, a partir da perspectiva israelense.

Filho de um sobrevivente do Holocausto, Michel Kichka publica diversas charges com tom crítico ao governo de Benjamin Netanyahu, mas também assinou ilustrações que destacam a questão dos reféns e condenam o Hamas.

Foto: Fantagraphics

Já Joe Sacco é conhecido por ser um defensor vocal da causa palestina. Com a reportagem em quadrinhos “Palestina”originalmente publicada em nove edições entre 1993 e 1995, ele se tornou uma referência no assunto ao evidenciar  as dificuldades, injustiças e tensões vividas pela população local. Sacco voltaria ao assunto em “Notas sobre Gaza”, em 2009.

Assumidamente uma obra não jornalística, mas sim opinativa, “Guerra em Gaza” foi lançado como uma coluna no site do The Comics Journal e posteriormente compilada e impressa pela Fantagraphics. Na época do lançamento, em janeiro de 2024, a editora sinalizou em um texto em seu blog, que queria “afirmar com clareza e ênfase que estamos ao lado da população inocente de Gaza. Ao mesmo tempo, condenamos com veemência o massacre de civis israelenses inocentes perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro como crime de guerra e reconhecemos, com profundo pesar, a dor e o trauma que o povo judeu está suportando em suas consequências; mas este ato bárbaro não autoriza Israel a cometer seus próprios crimes de guerra e a infligir, por sua vez, uma dor e um trauma exponencialmente maiores”.


Abaixo é possível conferir a nota completa da Associação Israelense de Quadrinhos:

O prêmio Eisner, o “Oscar do mundo dos quadrinhos”, leva o nome de Will Eisner, pilar da arte sequencial. Eisner concluiu sua vida criativa com a obra-testamento The Plot: the secret history of the Protocols of the Elders of Zion (“O Complô: A história secreta dos Protocolos dos Sábios de Sião”), que desconstrói o famoso falso documento antissemita tsarista publicado em 1905 — um best-seller de mentiras que ainda é vendido hoje, principalmente no mundo muçulmano.

O fato de o Eisner Award 2025 ter sido concedido ao livro de Joe Sacco, “Guerra em Gaza”, um panfleto que ultrapassa a linha que separa reportagem de pura propaganda, instrumento de ódio antissemita e anti-sionista, é um tapa retumbante para Eisner, que deve se revirar no túmulo.

Trata-se de um golpe fatal para o prestígio do prêmio e para o nome de Eisner, além de representar uma pesada dívida moral sobre todos os vencedores, antigos e atuais.

Uri Fink, presidente
Michel Kichka, vice-presidente

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