Amor de Gringo

20 junho 2022

De Marie-Eve Carrier-Moisan, William Flynn e Débora Santos
128 páginas
Skript | 2022
Tradução: Dandara Palankof

Uma versão em quadrinhos da pesquisa da canadense Marie-Eve Carrier-Moisan, Amor de Gringo analisa o turismo sexual na Praia da Ponta Negra, em Natal, Rio Grande do Norte. Chamada de Eva pelos brasileiros, a antropóloga acompanhou de perto, entre 2007 e 2008, as mulheres que protagonizam a trama e suas complexas relações com homens estrangeiros.

“Complexo” é a palavra que define o tema abordado. A pesquisa de Marie-Eve nos leva a compreender as motivações das mulheres, sem cair em um tom moralista. Ela elucida as questões sociais, econômicas e raciais que estão envolvidas no turismo sexual. Porém, toda essa complexidade não consegue ser reproduzida na adaptação para os quadrinhos (assinada por William Flynn e desenhada por Débora Santos). Embora seja efetiva em dar rosto e trazer, com clareza, os múltiplos agentes dessa equação, a HQ traz pouca profundidade na abordagem e na maneira como usa os quadrinhos.

Ao longo das páginas, assistimos Marie-Eve conversando com um grupo de mulheres que tira do relacionamento com gringos o seu sustento. É muito interessante saber como elas pensam e conhecer as suas vivências. Essa é a face mais poderosa da HQ. A trama também apresenta outros pontos de vista, como o de alguns estrangeiros e o que eles buscam quando vêm ao Brasil. Ao mesmo tempo em que temos uma ótima pesquisa em nossa frente, sentimos que a obra, enquanto história em quadrinhos, não atinge todo seu potencial. Os diálogos parecem simples, assim como as ocasiões em que acontecem. Existe uma sensação de que aquela história podia ser contada de uma maneira ainda melhor.

Um destaque vai para a arte de Débora Santos, que é eficaz ao não erotizar as protagonistas, retratando-as sempre de uma maneira digna, com olhar cuidadoso.

Publicado no Brasil pela Skript, Amor de Gringo é um quadrinho mais interessante pelo tema que aborda do que pela maneira como o executa. Isso não quer dizer que essa não seja uma boa leitura. Seu principal mérito é tornar acessível uma pesquisa antropológica e amplificar um debate necessário.

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