De Fred Fordham (Adaptando o livro de Aldous Huxley)
240 páginas
Quadrinhos na Cia. | 2023
Tradução: Luisa Geisler
Lançado em 1932, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, atravessou gerações inspirando e provocando reflexões. Fred Fordham, um especialista em adaptações em quadrinhos, produziu uma versão do romance que conserva a mensagem do livro original, mais pela atemporalidade do conteúdo do que pelo mérito na transposição de mídia.
A história se passa em um mundo altamente tecnológico, onde tudo parece maravilhoso. Não existem conflitos, doenças, dor e envelhecimento, os prazeres são liberados e uma simples pílula pode melhorar seu humor. Ao mesmo tempo, não há espaço para sentimentos e pensamento crítico, por exemplo. Separadas por castas, as pessoas já nascem condicionadas a exercerem suas tarefas e o conceito de família também não existe. É um universo sem qualquer individualidade. Exceto para os denominados selvagens, que vivem isolados com hábitos opostos, como se fossem o que restou do que conhecemos como humanidade.
Quando um “selvagem” conhece o mundo “civilizado”, os dois universos colidem e o leitor vai ser confrontado. Até que ponto o sistema pode intervir na vida do indivíduo? São discussões como essa que Huxley propôs na década de 1930 e que seguem contundentes até hoje.
Apesar de trazer muitas informações, o início é bem didático, enquanto nos apresenta esse mundo futurista. Já a construção dos personagens é superficial, sem qualquer desenvolvimento e, convenhamos, o ritmo não ajuda. O texto tem profundidade, só que é subaproveitado pela falta de fluxo narrativo. Exemplo disso é que um dos momentos mais potentes da trama, a batalha filosófica sobre humanidade, no fim do livro, é monótona.
A interpretação visual é fundamental para que o leitor se sinta convencido daquele universo extremamente exagerado. É tudo muito colorido, com closes nos corpos atléticos e nas expressões felizes. Um estilo que casa bem com a proposta.
Publicado pela Quadrinhos na Cia., Admirável Mundo Novo é uma adaptação que preserva a essência do texto original acerca do autoritarismo e a perda de humanidade. No entanto, algumas escolhas da adaptação prejudicam o desenvolvimento dos temas e dos personagens, o que é uma pena pela potência da trama.