De Cyril Pedrosa e Roxanne Moreil
232 páginas (vol. 1) e 192 páginas (vol. 2)
Nemo | 2022
Tradução: Renata Silveira
A Idade de Ouro consegue, logo na capa, nos apresentar a um mundo de fantasia, mas não por isso, menos político. Enquanto os personagens flutuam sobre páginas multicoloridas, eles falam sobre guerra, fome, luta de classes, poder popular. Cyril Pedrosa e Roxanne Moreil entregam, em dois volumes, um épico que não é apenas um “rostinho bonito”.
Nas primeiras páginas, conhecemos um trio de camponeses. Eles estão famintos, enquanto a nobreza caça. A dicotomia entre a vida miserável do povo e a fartura das mesas dos castelos é o primeiro ponto notável da HQ. Assim como no período medieval, o mundo de A Idade de Ouro tem um sistema rígido de classes, uma lógica feudal. O rei acaba de falecer e quem deveria subir ao trono é sua filha, Tilda. Porém, por um golpe, a princesa é exilada e ao lado dela ficam dois amigos fiéis: o Lorde Tankred e o escudeiro Bertil.
A base de A Idade de Ouro pode parecer pouco inédita, mas à medida que a história encorpa, vamos notando o poder do enredo. Enquanto Tilda peregrina em busca de apoio para voltar ao trono, uma revolta camponesa se inicia. Os pilares dessa mobilização estão em um livro mitológico, chamado A Idade de Ouro, que trata de um tempo sem senhores ou servos, um tempo de abundância e igualdade. No segundo (e último) volume, que traz um salto temporal, a HQ se torna mais tensa, com o início de uma guerra civil.
Pedrosa e Moreil abordam a sede por poder e trazem argumentos que refutam, por completo, a exploração do homem pelo homem. Essa não é a história da princesa que busca seu trono de volta. A Idade de Ouro não se limita ao óbvio e isso fica notável com a mudança de tom do segundo volume.
É impossível não se deslumbrar pelos painéis de Pedrosa, que explora os ângulos, as texturas, os movimentos. Ele busca referências nas pinturas de Bruegel, nas tapeçarias e mosaicos medievais, e mesmo assim tudo soa original, principalmente pela ousadia no uso das cores.
Publicado pela Nemo, A Idade de Ouro é uma leitura para desfrutar uma história bem contada, para refletir sobre o nosso modelo social e para se perder na arte absolutamente incrível de Cyril Pedrosa.