De Yudori
368 páginas
Conrad | 2024
Tradução: Flávia Yacubian
Ambientado na Holanda do século XVI, O Céu Para Conquistar traz uma representação de época encantadora, enquanto conta uma história de fôlego sobre relações de poder. A quadrinista coreana Yudori desenvolve e complexifica seus personagens, sobretudo a dupla de mulheres que já é destaque desde a capa.
Amélie é uma mulher que vem de uma família nobre, agora empobrecida, e é recém-casada com um mercador, Hans. Ele poderia ser o marido dos sonhos para outras senhoras holandesas, mas não para ela. Isso fica mais do que provado quando, após uma viagem, o homem retorna com outra mulher, a jovem Saara. Quando os caminhos dessas duas personagens se cruzam, as expectativas são diversas. Porém, o resultado é mais que surpreendente.
Yudori aproveita muito bem o contexto do período retratado para estabelecer as relações de classe e de gênero que são fundamentais para o quadrinho. Amélie e Saara são duas mulheres sob o teto de um mesmo homem que detém o controle sobre ambas, porém de maneira distinta. Essas nuances sociais e históricas enriquecem a HQ, enquanto uma trama maior se desenvolve: a obsessão de Amélie pelo céu. Ela quer voar, quer estar mais perto de Deus. Ou será que ela quer SER Deus?
A arte é uma mescla de estilos que traz referências dos mangás aos célebres pintores holandeses da época, principalmente Vermeer. A mistura funciona, em uma narrativa gráfica ágil, provavelmente um atributo que vem da experiência da autora com a publicação de webtoons. O traço limpo é delicado nas expressões e reproduz com fidelidade cenários, objetos e vestimentas do período.
Publicado no Brasil pela Conrad, O Céu Para Conquistar discute liberdade de uma maneira como vimos poucas obras fazerem. Yudori abraça temas complexos e faz personagens críveis, nada maniqueístas. Essa é uma leitura que, apesar de rápida, ainda ecoa e nos deixa fascinados por aquele universo.