De Inio Asano
416 páginas
JBC | 2025
Tradução: Caio Pacheco
Inio Asano é um mestre na arte de fazer o leitor sentir desesperança a cada virada de página. Em Garota à Beira Mar, publicado pela JBC, o mangaká retorna ao tema da adolescência, frequente em suas obras, para apresentar uma história sobre o vazio que é um sentimento comum nessa fase da vida. Ao acompanharmos o relacionamento sempre sexual e quase nunca amoroso entre dois jovens de cerca de 15 anos, testemunhamos o peso que ambos carregam e o desejo de fuga.
Incertezas, desejo de pertencimento, pressão social, mudanças no corpo. A adolescência ganha algumas camadas de drama a mais quando Koume e Keisuke engatam uma relação, enquanto tentam esquecer seus traumas recentes. Não há muita gentileza ou carinho, mas o sexo se torna um refúgio ou quase uma distração, enquanto ambos compartilham momentos íntimos. Asano constrói dois personagens quebrados, que se comportam de forma imprevisível e que precisam lidar com pesos distintos, mas igualmente sufocantes.
Acompanhar Koume e Keisuke não é nada fácil. Em meio a muitas cenas de sexo explícito (um dos motivos de o mangá ser classificado para leitores maiores de 18 anos), observamos jovens perdidos. Como em outros trabalhos do mangaká, não é possível passar ileso. Absorvemos sua desolação, sua desesperança, e sentimos o peso disso na leitura. Um efeito impressionante, que pode não ser dos mais agradáveis, mas só demonstra o poder de impacto dos roteiros de Inio Asano.
A arte é delicada, com traços finos e muito realismo nos cenários. Algumas das cenas mais explícitas podem incomodar leitores mais sensíveis ao tema, mas são importantes para o desenvolvimento da trama. O visual destaca expressões e olhares para atingir seu objetivo.
Longe de qualquer romance tradicional, Garota à Beira Mar não nos apresenta um casal perfeito com uma história ingênua. Estamos diante de uma história bastante realista que, justamente por isso, nos afeta e incomoda. Pode soar como um elogio curioso, mas vindo de Inio Asano, sabemos que isso faz parte da experiência que ele quer (e sabe) provocar.