De Junji Ito
256 páginas
Devir | 2024
Tradução: Arnaldo Oka
Planeta Demoníaco Remina é um terror bizarro e deliciosamente brega, mas, também, um tanto frustrante. Em um mangá em que Junji Ito abandona o horror corporal grotesco para focar em uma história com tons de ficção científica, o mangaká prolonga a história mais do que necessário, ultrapassando a linha tênue entre o assustador e o cômico.
Com pouco menos de 250 páginas, o mangá se desenrola a partir da descoberta de um novo planeta, cuspido de um buraco de minhoca. Celebrado pelo feito, o cientista Ooguro batiza o astro recém-descoberto de Remina, em homenagem a sua filha. De imediato, a decisão traz muita popularidade à garota. No entanto, à medida que o misterioso planeta se aproxima da Terra, devorando qualquer coisa que encontra em seu caminho, a tensão da população aumenta e o prestígio da jovem rapidamente se transforma em ódio, como se ela fosse a culpada pela possível extinção da humanidade. Com ajuda de alguns amigos e fãs, Remina precisa fugir da histeria coletiva.
O ponto alto da HQ está nesta primeira metade, com a atmosfera de tensão criada por Junji Ito. Inclusive, um dos momentos mais cruéis da trama ocorre ali. Até que Planeta Demoníaco Remina sai dos trilhos quando começa a se estender nas perseguições, chegando a um nível em que é difícil segurar o riso. O tom de tensão aterrorizante muda para um cômico bobo, rapidamente.
Apesar dos tropeços no desenvolvimento do roteiro, a conclusão do quadrinho é ótima, nada previsível e muito menos otimista. Outro ponto interessante, também revelado no final da história, é descobrir quem é o líder do grupo de fanáticos e como ele se relacionava com a protagonista.
A ambientação do mangá é sombria e angustiante, muito eficaz. Além disso, as cenas de destruição, a aparência inesperada do planeta e até as exageradas perseguições são muito bem desenhadas.
Publicado pela Devir, Planeta Demoníaco Remina desperdiça a oportunidade de encerrar a obra no momento certo. É um tanto decepcionante que, depois da ótima primeira metade, o mangá tenha feito de tudo para tirar o leitor da história. Ao ponto de a crueldade, fundamental para a dinâmica da HQ, ficar cada vez mais próxima da chacota.