De Jason
64 páginas
Mino | 2022
Tradução: Pedro Cobiaco
Inspirado em A Noiva de Frankenstein, Jason recria a relação entre o cientista louco, o monstro e sua noiva em Daqui, Não Se Chega Lá. Ácido, melancólico e até vago, em certos momentos, o quadrinho apresenta o já tradicional estilo do autor norueguês: os personagens são representados como animais e há poucos (ou nenhum) balão de fala, deixando espaço para a narrativa gráfica.
Frankenstein começou a criar problemas ao roubar revistas de conteúdo adulto das lojas e ao stalkear mulheres tomando banho, algo que não era previsto pelo o cientista louco. Para conter os impulsos sexuais de sua criatura, ele decide criar para uma noiva para Frankenstein, porém esse se tornaria o início de um triângulo amoroso. Enquanto isso, Igor está cada vez mais solitário e insatisfeito com os comportamentos insanos do cientista.
Apesar de não ter o brilho das obras anteriores de Jason, também publicadas pela Mino, Daqui, Não Se Chega Lá é um bom entretenimento pelo período em que passamos curiosos pelas páginas da HQ. A arte sequencial é destaque mas, aqui, ao contrário de outros trabalhos do quadrinista, sentimos falta de conexões entre os momentos da obra. Algumas lacunas precisam ser preenchidas pelo próprio leitor. Por mais que isso funcione, nem sempre o minimalismo de Jason oferece o suficiente. O resultado é uma trama que pode parecer um pouco “solta”, até para os padrões do autor.
Ao mesmo tempo, devemos levar em consideração que já conhecemos a obra do quadrinista. Talvez, se esse fosse um primeiro contato, ficaríamos mais convencidos por sua habilidade de transmitir sentimentos complexos em poucos gráficos.
Daqui, Não Se Chega Lá é divertido e introspectivo, ao mesmo tempo. Podemos encontrar ganchos para reflexões complexas, como a “monstruosidade” entre os nossos comportamentos, ou ter uma leitura mais despretensiosa ao rir da proposta tragicômica de Jason.