De Peer Meter e Barbara Yelin
208 páginas
DarkSide Books | 2022
Tradução: Rebecca Paola Gerndt
Inspirada em fatos, Veneno: Anjo de Bremen traz a história da envenenadora em série, Gesche Gottfried, que chocou a Alemanha no início do século XIX. A HQ de Peer Meter e Barbara Yelin busca questionar a responsabilidade da sociedade nos crimes de Gottfried e a questão da culpa feminina.
Para narrar a história, temos como protagonista uma jovem escritora inglesa que está a caminho de Breman para escrever um relato de viagem sobre a cidade alemã. Porém, ao chegar ao local, ela vai encontrar uma atmosfera turbulenta e desconfiada. É através da escritora que vamos descobrindo os horrores por trás desta comunidade extremamente religiosa, conservadora e misógina.
Gottfried foi condenada à execução em praça pública por matar uma série de pessoas com “manteiga de camundongo”, basicamente, veneno de rato. No entanto, o comportamento da mulher é contraditório e misterioso, o que levanta questões sobre sua sanidade. Só que a cultura da culpa feminina, ao lado da ignorância daquela sociedade na época, não consideraram um possível transtorno psiquiátrico e buscaram usá-la como ferramenta para amedrontar outras mulheres, para maior controle e submissão. Gesche Gottfried se tornou um exemplo das consequências de não ser “uma mulher de respeito”.
O enredo de Veneno é ótimo, se desenrola bem e o uso da personagem da escritora como recurso narrativo é funcional. Outro ponto a destacar é o embate entre as ideias progressistas dela e a comunidade religiosa de Bremen. A protagonista é tudo aquilo que a sociedade local condena: uma mulher livre, autoconfiante e inteligente. Não espere por reviravoltas, ou até mesmo, aprofundamento na história e crimes de Gottfried. Não é a proposta desta obra.
Os desenhos de Barbara Yelin dão intensidade à história, valorizando o clima sombrio e carregado da cidade. E mais, a arte evoca a atmosfera claustrofóbica que a protagonista vivencia ali.
Por fim, Veneno traz um olhar sobre a sociedade conservadora de Bremen. Um retrato social de uma cultura que, para além da figura de assassina a sangue frio que plantaram em Gesche Gottfried, viu a criminosa como uma oportunidade para reafirmar seus ideais machistas.