Utopia

3 junho 2024

De Raquel Varela e Robson Vilalba
184 páginas
Veneta | 2024

Nós brasileiros sabemos muito pouco sobre a Revolução dos Cravos, em Portugal. A mais profunda revolução social da Europa, do pós-guerra aos dias de hoje, é um símbolo do poder popular que celebrou 50 anos em 2024. Utopia, da portuguesa Raquel Varela e do brasileiro Robson Vilalba, se dedica ao contexto desse momento histórico, a partir do ponto de vista de um homem comum.

José conta da sua infância em uma Portugal marcada pela mortalidade infantil e condições precárias de saneamento ao momento em que se torna, já adulto, um dos milhares de agentes populares da Revolução. Entre esses dois momentos da vida do protagonista está a queda do regime fascista de Salazar e a guerra colonial, injusta e insustentável.

Os autores abusam da narração dos eventos, mas não há excesso de didatismo. A história flui em um ritmo confortável de acompanhar, de modo que é fácil compreender o contexto, a sucessão de acontecimentos do 25 de abril de 1974, e tudo o que veio depois. A vida de José é usada como gancho para explicar os eventos históricos, mas esse contato não é o suficiente para nos conectarmos ao personagem. Tudo está, no fim das contas, voltado para a Revolução. A ideia do ponto de vista de um homem comum funciona para a proposta, porém um pouco menos do que o esperado.

A arte de Robson Vilalba dá autenticidade ao quadrinho. Estilizado, com pinceladas que parecem rápidas e não se preocupam tanto com a forma dos desenhos, o visual é um ponto alto. Adoraríamos, no entanto, que a HQ aproveitasse mais recursos dos quadrinhos e dinamizasse o uso massivo de recordatórios com mais diálogos. Há várias situações “quadrinizáveis” que acabam apenas seguindo o padrão da obra.

Lançado pela Veneta, Utopia é perfeito para o entendimento do que foi a Revolução dos Cravos ou mesmo um ótimo ponto de partida para se aprofundar mais no assunto. Adoraríamos ver um melhor aproveitamento da mídia, é claro, mas a execução atende muito bem à proposta. Para leitores brasileiros que pouco tiveram contato com esse evento marcante na história portuguesa, ou melhor, na história dos movimentos revolucionários populares, o quadrinho atinge em cheio.

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