De Conor Stechschulte
384 páginas
HQueria | 2024
Tradução: Giovanna Chinelatto
Ultrasound é completamente imprevisível. O que se inicia como uma história aparentemente comum, envolvendo um encontro sexual inesperado, se transforma em uma conspiração em que a realidade passa a ser contestada. Conor Stechschulte não tem medo de ousar nem de confundir o seu leitor e emprega diferentes recursos estéticos para isso.
Glen estava voltando do casamento de um amigo, quando é obrigado a parar em uma casa para pedir ajuda. Seus dois pneus dianteiros furaram e não há sinal de telefone. Ele é acolhido por Art, um homem já de meia-idade, e sua mulher Cindy, claramente mais jovem. Só que tudo começa a ficar estranho quando o homem faz uma proposta, ou melhor, um pedido: que Glen durma com sua esposa.
A proposta inicial pode parecer inusitada, mas esse é realmente apenas o começo. Ultrasound mergulha no caos, mistura diferentes linhas do tempo, personagens, cores e traços e obtém um efeito: deixar o leitor vidrado. Ficamos intrigados com os rumos dessa história, que é cercada de mistério até o final. Embora a proposta seja mesmo abraçar o caos, o início da segunda metade pode se tornar um pouco cansativo, já que é impossível que o leitor se situe na trama. Depois, o fôlego é recuperado e nossa atenção também, até as últimas páginas.
A arte de Stechschulte varia entre estilos e vai do realismo a traços mais dismórficos. A escolha das cores também faz parte do enigma, não se engane pensando que as mudanças são completamente aleatórias. Infelizmente a escolha tipográfica da edição brasileira não faz jus ao trabalho original, à mão, do quadrinista, que também ajuda na composição da narrativa.
Publicado pela HQueria, Ultrasound é uma espiral alucinante, que deixa o leitor incrédulo e fascinado, principalmente se gostar de suspenses psicológicos. Controle mental, política, dilemas íntimos e paranoia são só um pouco da receita dessa obra quase perturbadora.