De Pedro Brito e João Fazenda
128 páginas
Faria e Silva | 2022
Em 2001, os portugueses Pedro Brito e João Fazenda publicaram Tu és a mulher da minha vida, ela é a mulher dos meus sonhos, considerada pela crítica um dos grandes quadrinhos do período, em Portugal. Para comemorar os 20 anos de sua primeira publicação, a HQ regressou em uma edição comemorativa com extras, e é esta nova edição que, em 2022, a Faria e Silva trouxe ao Brasil.
Através do casal Tomás e Elsa acompanhamos uma história que aborda o companheirismo, a desconexão, a solidão e a luta para manter o amor vivo. Somos apenas observadores desses dois personagens que, apesar de se amarem, agora vivem em rotações diferentes. Uma abordagem que assusta de tão relacionável.
Ele é um escritor que tem tido dificuldade de buscar inspiração para seu próximo trabalho, um quadrinho. Ela é uma artista plástica querendo um lugar ao sol. Casados há três anos, elas já não se conectam como antes. São brigas, quebras de expectativas e desejos diferentes. O roteiro é melancólico, com diálogos de muita naturalidade e com elementos que até chegam a flertar com o realismo fantástico. Destaque para a narrativa visual que é ousada na composição das páginas, nos movimentos dos personagens, e ainda assim bastante funcional, em seus tons de preto e vermelho.
Mesmo que estejamos acompanhando um relacionamento, a perspectiva é sempre a de Tomás, o que pode tornar Elsa uma personagem enviesada aos nossos olhos. Seguimos os passos do escritor, ouvimos seus pensamentos, e por isso temos a sua versão dos conflitos. Esse é um aspecto que ao mesmo tempo é interessante, do ponto de vista narrativo, mas também nos coloca em dúvidas: será que temos um lado “certo” dessa história? É preciso ter um lado certo?
O amor é contraditório. Tu és a mulher da minha vida, ela é a mulher dos meus sonhos traduz os dilemas de um relacionamento. É difícil não sair do quadrinho pensativo e absorver aquela melancolia. Essa é daquelas obras que permanecem com a gente por um bom tempo, após a leitura.