De Miki Yamamoto
200 páginas
JBC | 2023
Tradução: Cecília Yuri Takahashi
Ao primeiro olhar, Sunny Sunny Ann não parece um mangá. Talvez um quadrinho europeu ou norte-americano. Miki Yamamoto usa seu traço cheio de personalidade para nos guiar pelas rotas traçadas por Ann. Uma mulher de personalidade forte, ousada e que preza por sua liberdade acima de tudo.
As primeiras páginas, que logo nos apresentam à protagonista, são econômicas e precisas. É possível, logo de início, perceber o estilo de vida de Ann, mesmo que não tenhamos detalhes sobre o seu passado. Ela vive nos EUA, mora no seu carro, toma banho sem pudores em uma mangueira no posto de gasolina, faz sexo com alguns conhecidos, em troca de favores e de dinheiro para sobreviver. Essa é uma mulher que está num sentido diretamente oposto do que poderia ser socialmente aceito.
Na estrada, Ann se depara com diferentes personagens que acrescentam mais dinamismo à jornada da protagonista. Yamamoto divide Sunny Sunny Ann em arcos que apresentam esses personagens: a família dono de um café, que ocasionalmente tem encontros sexuais com com Ann; uma ex-coelhinha da Playboy e seu marido de 90 anos; e Abbie, uma menininha negligenciada pelos pais, que pede para ser adotada pela protagonista.
A autora usa a figura de Ann como forma de evidenciar o quão hipócrita é a sociedade de consumo, o quão falido é o american way of life, com críticas sutis e bem posicionadas no roteiro. Os capítulos Edward & Laura e Family Restaurant se destacam ao provocar o leitor, enquanto a trama se desenvolve de forma despretensiosa.
Mesmo que o estilo slice of life de Sunny Sunny Ann não conquiste todos os leitores, a construção narrativa é um dos pontos altos da HQ. Mesmo que não pareça, o mangá carrega elementos e composições característicos dos quadrinhos japoneses, mas também usa o traço solto, às vezes até grosseiro, para dar fluidez e guiar essa história sobre liberdade.
Drama, aventura, humor, crítica social… Há um pouco de tudo em Sunny Sunny Ann, sem cair na obviedade. Lançado pela JBC, esse é, sem dúvidas, um dos títulos que mais fogem ao padrão esperado de um mangá, seja no conteúdo ou na estética.