De Ram V e Filipe Andrade
160 páginas
Devir | 2024
Tradução: Giovana Bomentre
Ram V e Filipe Andrade se reúnem para mais uma história criativa e cheia de vida, em Sabores Raros. Ao mesmo tempo particular e universal, o quadrinho nos envolve em uma trama multisensorial sobre a cultura e a culinária indiana, enquanto discute a singularidade e a beleza das experiências individuais e coletivas da humanidade.
Rubin Baksh, um Rakshasa demoníaco apaixonado por comida, quer produzir um documentário sobre seu assunto favorito. Para isso, ele contrata Mo, um cineasta pouco experiente, que se vê diante dessa proposta convidativa, mas não faz ideia de quem Rubin, de fato, é. Poderia ser a premissa de uma HQ de terror, mas Ram V segue no caminho oposto. O roteirista consegue trazer diferentes camadas para esses dois personagens e provocar o leitor pela maneira como desenvolve a amizade improvável entre eles.
À medida que a trama avança, o leitor é convidado a conhecer receitas tradicionais da culinária indiana, que podem até parecer à parte da história em um primeiro momento, mas logo se integram à mistura para encorpar esse delicioso conto. Como em cozimento lento, para apurar o sabor, a história se desenvolve com foco na narração de Rubin. Assim como As Muitas Mortes de Laila Starr, outro trabalho da dupla, o enredo tem um tom reflexivo, que nos faz mergulhar em questões existenciais, enquanto vemos um prato repleto de especiarias ser preparado. Aliás, é impossível não sentir fome lendo Sabores Raros.
Filipe Andrade brinca com as cores e com as formas, principalmente na figura corpulenta de Rubin. Seu olhar para a Índia é apaixonado e a fluidez com a qual desenha as cenas é impressionante. Dá vontade de nos transportar para essas páginas tão vivas, que têm cheiro, sabor, calor…
Publicado pela Devir, Sabores Raros é uma leitura contemplativa, daquelas em que dá vontade de demorar propositalmente para se deliciar com tudo. É uma história relativamente “simples”, sem grandes reviravoltas, ameaças ou um clímax impactante. O objetivo aqui é outro. É encontrar beleza nas relações, naquilo que nos une… nada melhor para isso do que uma comida saborosa, cheia de memória afetiva.