De Michel Rabagliati
208 páginas
Comix Zone | 2021
Tradução: Fernando Paz
Logo nas primeiras páginas, Paul em Casa se mostra um quadrinho melancólico. Michel Rabagliati apresenta uma história dramática, com doses de esperança, que aborda diversos temas mas, principalmente, as relações humanas e a solidão. A HQ retrata a realidade nua e crua da vida comum, sem romantizar, mas também sem ser pessimista. Com uma perspectiva madura, boas reflexões e final emblemático, Paul em Casa faz jus ao barulho feito na temporada de premiações.
Neste livro, o alterego de Michel Rabagliati passa por um momento solitário. Com pouco mais de 50 anos, o protagonista agora vive com seu cachorro, já que acabou de se divorciar. Ao mesmo tempo, ele lida com o envelhecimento, a distância da filha, e passa a ver cada vez mais a vida desacelerar.
O quadrinho começa amargo e vai ficando mais e mais sombrio, num ritmo lento, que intercala momentos comuns do cotidiano. O autor insere esses trechos, até com doses de humor, para além de dar uma aliviada no clima da HQ, mostrar que Paul é uma pessoa comum. Ele passa pela separação e outros problemas, mas também enfrenta um desconforto com o vizinho, dor de dente, apneia, namoro virtual e por aí vai. São passagens que tornam o personagem ainda mais identificável. Apesar disso, temos uma observação. Talvez, Michel poderia não ter dado tanto destaque para esses momentos triviais. A impressão que fica é que ele gastou mais páginas do que era necessário.
Na arte, adoramos o estilo do autor, os cenários, os detalhes das expressões. É aquele tipo de desenho em que o olhar do personagem transmite genuinamente o que ele está sentindo.
Mesmo não causando o mesmo impacto de A Canção de Roland (também da editora Comix Zone), Paul em Casa foi uma excelente experiência de leitura. História angustiante, com ótimos diálogos e ambiente introspectivo. Um quadrinho que nos levou para dentro das sensações do personagem.