De Cecilia Marins, Maria Allice De Vicentis e Tainá Freitas
60 páginas
Independente | 2020
Um belo trabalho jornalístico, Parque das Luzes, de Cecilia Marins, Maria Allice De Vicentis e Tainá Freitas, se dedica a retratar, de forma cuidadosa, a realidade de várias mulheres em situação de prostituição, em São Paulo. Especificamente centrado no Parque da Luz, no Centro de São Paulo, o quadrinho traz um panorama histórico, econômico e social da prostituição no local e permite que o leitor conheça essas mulheres para além das narrativas que são comumente associadas a elas.
Longe de tratar a prostituição como um tabu, mas sem reforçar ou buscar esmiuçar aquilo que ocorre dentro dos quartos, Parque das Luzes vai, ao longo de suas 60 páginas, pincelando as vidas de diferentes mulheres. Conhecemos brevemente suas trajetórias, o caminho que as levou à prostituição, suas opiniões sobre seu trabalho e outros aspectos de suas rotinas. É importante ressaltar também o trabalho de acolhimento da ONG Mulheres da Luz, que foi importante no processo de apuração das autoras.
Enquanto reportagem, Parque das Luzes alcança praticamente tudo o que propõe. Já como quadrinho, a obra, que foi um Trabalho de Conclusão de Curso, ainda não alcança todo seu potencial. Às vezes, a narrativa gráfica parece muito protocolar, embora faça um bom uso do tom documental da obra. Há também uma oscilação no traço que pode causar estranhamento. Isso pode se dever ao fato de que Cecilia deu liberdade para que as próprias entrevistadas se desenhassem, mostrassem como queriam ser retratadas, como conta a autora no prefácio.
Parque das Luzes é jornalismo em quadrinhos autenticamente brasileiro, sendo feito de uma maneira orgânica e comprometida. É uma HQ que reflete muito bem seu propósito e os processos de seu desenvolvimento: a apuração, a produção, as pequenas falhas, o caráter quase de zine dos seus traços. O resultado é uma HQ que não se intimida pela complexidade do tema que aborda, muito pelo contrário, ela o humaniza por sua abordagem honesta e para isso não precisa ser “perfeita”.