De Paco Roca e Guilhermo Corral
224 páginas
Devir | 2024
Tradução: Claudio Martini
Um navio espanhol naufragado no início do século XIX se tornou o centro de uma batalha judicial entre a Espanha e uma empresa caça-tesouros, em 2007. O Tesouro do Cisne Negro, uma parceria de Paco Roca com o diplomata Guilhermo Corral, usa dessa história real como base para uma ficção que mescla história, disputas de poder e pitadas de aventura.
Alex é um jovem diplomata, cujas funções foram direcionadas ao Ministério da Cultura espanhol. Pouco experiente, ele não fazia ideia que seria um dos agentes ativos nessa disputa pelo maior tesouro submarino já encontrado. É através de pessoas como Alex que Paco Roca e Guilhermo Corral trazem esse caso para perto dos leitores. A dupla ainda bebe da fonte de aventuras clássicas dos quadrinhos (nada mais justo em uma HQ sobre um tesouro). Ao mesmo tempo, esta é uma história que se mantém firme à proposta realista, não poupando os leitores de detalhes mais burocráticos ou questões jurídicas nada divertidas.
Em O Tesouro do Cisne Negro, Paco Roca se afasta do apelo emocional de grande parte de suas obras. O projeto aqui é destrinchar para o leitor os trâmites, as negociações, sem deixá-lo entediado. Para isso, as histórias dos personagens são construídas ao redor da trama central, com direito até a um romance não muito necessário. Ainda assim, é possível conectar este a outros quadrinhos de Roca. Afinal, testemunhamos a história de um país que não queria deixar um símbolo de sua história se tornar propriedade de uma empresa.
É sempre impressionante a habilidade de Roca na construção de uma boa narrativa gráfica. Mesmo em uma trama que tinha tudo para ser lenta ou até enfadonha, o quadrinista consegue encontrar fluidez. Seu estilo característico se mantém como um diferencial, mas aqui pode dificultar na memorização das feições de alguns personagens.
Publicado pela Devir, O Tesouro do Cisne Negro pode ficar longe das obras-primas (sim, no plural) de Paco Roca, mas ainda é uma experiência e tanto. A curiosidade do tema é fundamental para que a HQ funcione, mas sua execução é o ponto alto, conseguindo transformar um embate jurídico em uma narrativa envolvente sem perder a densidade dos fatos.